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FLAME: Radioterapia com reforço focal intraprostático em câncer de próstata localizado – seguimento de 10 anos

Autores do Artigo: 

Karolína Menne Guricová, Cédric Draulans, Floris J. Pos, Linda G.W. Kerkmeijer, Evelyn M. Monninkhof, Robert J. Smeenk, Martina Kunze-Busch, Hans C.J. de Boer, Jochem R.N. van der Voort van der Zyp, Karin Haustermans, Uulke A. van der Heide Pergunt

Revista

Journal of Clinical Oncology

Data da publicação

Agosto 2025

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Agosto 2025

  

Introdução

Em agosto de 2025 foi publicado na revista Journal of Clinical Oncology o estudo FLAME, que avaliou a adição de um reforço focal de dose (boost) direcionado à lesão intraprostática identificada por ressonância magnética, associado à radioterapia externa convencional, em pacientes com câncer de próstata localizado de risco intermediário ou alto. A hipótese era que o aumento de dose no foco tumoral poderia aumentar a sobrevida livre de recidiva bioquímica sem aumento relevante de toxicidade. O estudo confirmou benefício sustentado em 10 anos para controle bioquímico e outros desfechos locais e regionais. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Avaliar o impacto do reforço de dose focal intraprostático, associado à radioterapia externa padrão, sobre a sobrevida livre de recidiva bioquímica.

Desenho do estudo

Estudo multicêntrico, randomizado, de fase 3, com dois braços paralelos (radioterapia padrão vs. radioterapia padrão + reforço focal na lesão intraprostática visível por ressonância magnética).

Número de pacientes

571 pacientes randomizados (287 no braço padrão e 284 no braço reforço focal).

Período de inclusão

2009 a 2015.

Materiais e Métodos

Grupos de tratamento:

- Grupo controle: Radioterapia externa de 77 Gy em 35 frações para toda a próstata

- Grupo experimental: adicionado reforço focal simultâneo integrado de até 95 Gy na lesão intraprostática (gross tumor volume), respeitando os limites para órgãos de risco.

O uso de terapia de privação androgênica foi a critério do médico, com distribuição semelhante entre os braços. A análise foi por intenção de tratar, com seguimento mediano de 106 meses (8,8 anos).

Desfechos

Primário: sobrevida livre de recidiva bioquímica em 10 anos (definida por critérios de Phoenix).

Secundários: sobrevida livre de doença, sobrevida livre de falha local, sobrevida livre de falha em linfonodos regionais, sobrevida livre de metástases à distância e sobrevida global. Também foram exploradas curvas de dose–resposta.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Incluídos pacientes com câncer de próstata localizado, de risco intermediário ou alto, sem metástases, com lesão visível por ressonância magnética. Excluídos pacientes de baixo risco.

Resultados

As características basais foram bem balanceadas entre os grupos randomizados. A maior parte dos pacientes incluídos foram classificados como doença de alto risco (84%). A sobrevida livre de recidiva bioquímica em 10 anos foi de 71% no braço padrão versus 86% no braço com reforço focal (HR ajustado 0,40; IC95% 0,26–0,61; p<0,001). A sobrevida livre de doença em 10 anos foi de 67% versus 81% (HR 0,48; IC95% 0,33–0,69; p<0,001), a sobrevida livre de falha local de 86% versus 95% e a sobrevida livre de falha em linfonodos regionais de 85% versus 94%, todas favorecendo o reforço focal. Não houve diferença estatisticamente significante para sobrevida livre de metástases à distância (83% vs. 87%; p=0,12) nem para sobrevida global (p=0,77). As análises de dose–resposta mostraram menor taxa de falha bioquímica e possivelmente menor risco de metástases à distância com doses ≥90 Gy na lesão.

Em relação à segurança, não foram coletados dados adicionais após 60 meses, mas os resultados de 5 anos já haviam mostrado ausência de aumento de toxicidade urinária ou retal clinicamente relevante com o reforço focal.

Conclusão do Trabalho

O boost focal isotóxico na lesão intraprostática, associado à radioterapia externa convencional, melhora de forma sustentada o controle bioquímico, local e regional em pacientes com câncer de próstata localizado de risco intermediário ou alto, sem aumento de toxicidade tardia, embora sem impacto demonstrado em sobrevida global.

Comentário Editorial

O estudo de fase 3 FLAME reforça a importância da intensificação local do tratamento em câncer de próstata localizado de maior risco, mostrando benefício sustentado no controle bioquímico e regional por 10 anos. É importante porém ressaltarq que não foi demonstrado aumento de sobrevida global no estudo. A ausência de ganho em sobrevida global provavelmente se explica pelo baixo número de eventos letais nesse cenário, uso de terapias de resgate eficazes, desenho não dimensionado para esse desfecho e seguimento ainda insuficiente para detectar diferenças relevantes. Limitações adicionais do estudo FLAME incluem heterogeneidade na dose de reforço, ausência de padronização inicial no contorno da lesão, uso não uniforme de terapia hormonal e falta de estadiamento com PET-PSMA na inclusão. Ensaios em andamento com hipofracionamento e reforço focal poderão esclarecer o papel dessa estratégia em outros esquemas de fracionamento.

Referência

Menne Guricová K, Draulans C, Pos FJ, et al. Focal boost to the intraprostatic tumor in external beam radiotherapy for patients with localized prostate cancer: 10-year outcomes of the FLAME trial. J Clin Oncol. Published online August 4, 2025.

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