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Radioterapia eletiva de pelve versus terapia direcionada à metástase em recidiva oligometastática nodal pélvica de câncer de próstata: resultados do estudo de fase 2 PEACE V–STORM

Autores do Artigo: 

Piet Ost et al.

Revista

The Lancet Oncology

Data da publicação

Agosto 2025

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Agosto 2025

  

Introdução

Em maio de 2025 foi publicado o estudo PEACE V–STORM, que avaliou se a radioterapia eletiva de pelve com boost simultâneo nos linfonodos positivos identificados por PET seria superior à terapia direcionada à metástase em pacientes com recidiva nodal pélvica oligometastática detectada por PET após tratamento local. A hipótese era de que a radioterapia eletiva de pelve proporcionaria melhor controle da doença e maior sobrevida livre de metástases. O estudo mostrou vantagem para a radioterapia eletiva de pelve, embora a confirmação em estudo de fase 3 ainda seja necessária. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Comparar o impacto da radioterapia eletiva de pelve com boost simultâneo nos linfonodos positivos identificados por PET, associada a seis meses de terapia de privação androgênica, em relação à terapia direcionada à metástase com a mesma duração de terapia de privação androgênica, na sobrevida livre de metástases e outros desfechos clínicos.

Desenho do estudo

Ensaio clínico randomizado, aberto, de fase 2, conduzido em 21 hospitais na Austrália, Bélgica, Itália, Noruega, Espanha e Suíça.

Número de pacientes

196 pacientes randomizados; 190 avaliáveis para análise (97 no grupo de terapia direcionada à metástase e 93 no grupo de radioterapia eletiva de pelve).

Período de inclusão

Junho de 2018 a abril de 2021.

Materiais e Métodos

A randomização foi estratificada pelo tipo de PET utilizado (colina ou antígeno prostático específico de membrana) e pelo tipo de terapia direcionada à metástase (cirurgia de resgate com linfadenectomia ou radioterapia estereotáxica).

Grupos de tratamento:

1) Terapia direcionada à metástase: radioterapia estereotáxica de alta dose em três sessões ou cirurgia com dissecção linfonodal pélvica estendida + ADT por 6 meses

2) Radioterapia eletiva de pelve: RT na pelve com 45 Gy em 25 sessões, com dose adicional simultânea de 65 Gy nos linfonodos positivos identificados por PET + ADT por 6 meses. Pacientes que já haviam feito cirurgia de resgate receberam a mesma dose pélvica pós-operatória.

Indivíduos com alto risco de recidiva local (pT3 ou pT4, escore de Gleason igual ou superior a 8, margem cirúrgica positiva) poderiam receber radioterapia do leito prostático com dose mínima de 66 Gy. 

O acompanhamento incluiu consultas regulares, dosagem de antígeno prostático específico e testosterona, e repetição de PET a cada seis meses ou em caso de progressão clínica ou laboratorial.

Desfechos

Primário: sobrevida livre de metástases (tempo até aparecimento de metástase à distância em PET ou óbito por qualquer causa).

Secundários: sobrevida livre de recidiva bioquímica, sobrevida livre de recidiva locorregional, sobrevida livre de nova terapia de privação androgênica, toxicidade tardia geniturinária e gastrointestinal grau 2 ou superior.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Inclusão: até cinco linfonodos pélvicos positivos em PET, recidiva bioquímica conforme critérios da Associação Europeia de Urologia, ausência de metástases ósseas ou viscerais.

Exclusão: linfonodos acima da bifurcação da aorta, contraindicação à radioterapia pélvica, radioterapia prévia sobreposta ao campo atual.

Resultados

As características basais foram semelhantes entre os grupos. A mediana de idade foi de 70 anos no grupo de terapia direcionada à metástase e 71 anos no grupo de radioterapia eletiva de pelve. O tempo mediano desde o diagnóstico inicial foi de 4,3 anos e 3,5 anos, respectivamente. O valor mediano de antígeno prostático específico na inclusão foi de 1,00 ng/mL no grupo de terapia direcionada à metástase e 0,85 ng/mL no grupo de radioterapia eletiva de pelve. A maioria dos pacientes apresentava alto risco de recidiva bioquímica de acordo com critérios da Associação Europeia de Urologia (91% no grupo de terapia direcionada à metástase e 86% no grupo de radioterapia eletiva de pelve).

Quanto ao tipo de exame de imagem utilizado para seleção, no grupo de terapia direcionada à metástase 18 pacientes (19%) realizaram PET com colina e 79 pacientes (81%) realizaram PET com antígeno prostático específico de membrana; no grupo de radioterapia eletiva de pelve esses números foram 16 pacientes (17%) e 77 pacientes (83%), respectivamente.A maioria dos pacientes apresentava um único linfonodo positivo no PET (55% no grupo de terapia direcionada à metástase e 62% no grupo de radioterapia eletiva de pelve). Lesões no nível dos linfonodos ilíacos comuns estavam presentes em 18% e 31%, respectivamente. Recorrência local na próstata ou no leito prostático foi identificada em 13% dos pacientes de cada grupo. Radioterapia concomitante do leito prostático foi administrada em 25% dos pacientes do grupo de terapia direcionada à metástase e 41% do grupo de radioterapia eletiva de pelve.

O seguimento mediano foi de 50 meses. A sobrevida livre de metástases em 4 anos foi de 63% no grupo de terapia direcionada à metástase e 76% no grupo de radioterapia eletiva de pelve (hazard ratio 0,62; intervalo de confiança de 80%: 0,44–0,86; p=0,063). A sobrevida livre de recidiva bioquímica foi de 41% versus 57% (hazard ratio 0,62; p=0,014). A sobrevida livre de recidiva locorregional foi de 62% versus 85% (hazard ratio 0,45; p=0,0047). A sobrevida livre de nova terapia de privação androgênica foi de 60% versus 77% (hazard ratio 0,60; p=0,049). Em relação ao local de recidiva, o grupo terapia direcionado à metástase apresentou mais metástases à distância (37% vs. 22%) - em sua maior parte doença linfonodal (28% vs. 14%) e metástases em linfonodos pélvicos (29% vs. 8%).

 

O benefício em sobrevida livre de metástases foi aparentemente maior em pacientes estadiados com PET PSMA, entre aqueles com PSA<1 ng/mL e sem linfonodo detectável em nível de linfonodo ilíaco comum. 

A toxicidade geniturinária tardia grau 2 ou superior ocorreu em 28% no grupo de terapia direcionada à metástase e 31% no grupo de radioterapia eletiva de pelve, sendo a incontinência urinária o evento grau 3 mais frequente (6% e 10%, respectivamente). A toxicidade gastrointestinal grau 2 ou superior foi de 7% e 9%, com diarreia grau 3 em 1% e 2%, respectivamente. A inclusão do leito prostático no campo de tratamento aumentou as taxas de toxicidade geniturinária e gastrointestinal em ambos os grupos.

Conclusão do Trabalho

A radioterapia eletiva de pelve com boost nos linfonodos positivos identificados por PET, associada a seis meses de terapia de privação androgênica, aumentou a sobrevida livre de metástases e o controle locorregional em relação à terapia direcionada à metástase em pacientes com recidiva nodal pélvica oligometastática, sem aumento relevante de toxicidade tardia.

Comentário Editorial

O estudo PEACE V–STORM é pioneiro ao comparar, de forma randomizada, a radioterapia eletiva de pelve com boost nos linfonodos positivos no PET e a terapia direcionada à metástase, com estratificação pelo tipo de PET (PET PSMA vs. PET colina) e pelo tipo de tratamento no braço de terapia direcionada. O benefício da radioterapia eletiva de pelve foi mais pronunciado em pacientes estadiados por PET com PSMA e com antígeno prostático específico basal inferior a 1 ng/mL. As limitações incluem ausência de revisão central das imagens, desenho aberto e variabilidade na indicação de radioterapia do leito prostático, fatores que podem ter influenciado desfechos e toxicidade. O trabalho reforça a limitação do PET para identificar todos os focos de doença quando se utiliza terapia direcionada isolada, já que o padrão de recidiva observado no grupo de terapia direcionada foi predominantemente locorregional. Esse achado dialoga com os resultados do estudo OSPREY, que avaliou a acurácia do PET PSMA na detecção de metástases linfonodais, mostrando que, apesar da elevada especificidade (95%), a sensibilidade para linfonodos pélvicos foi moderada (40%), com falsos negativos principalmente em lesões pequenas (<5 mm). Assim, mesmo exames considerados “negativos” podem deixar de identificar micrometástases, justificando a vantagem de uma abordagem eletiva mais ampla como a radioterapia de toda a pelve com reforço nos linfonodos identificados.

Referência

Ost P, Siva S, Brabrand S, et al. Salvage metastasis-directed therapy versus elective nodal radiotherapy for oligorecurrent nodal prostate cancer metastases (PEACE V–STORM): a phase 2, open-label, randomised controlled trial. Lancet Oncol. Published online May 5, 2025. doi:10.1016/S1470-2045(25)00197-4

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