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Terapia direcionada a metástases em adição à terapia sistêmica padrão no câncer de próstata oligometastático resistente à castração: estudo canadense GROUQ-PCS 9

Autores do Artigo: 

Tamin Niazi et al.

Journal

The Lancet Oncology

Data da publicação

Setembro 2025

Autor do Resumo

Editor de Seção

  

Introdução

Em setembro de 2025 foi publicado na revista The Lancet Oncology o estudo GROUQ-PCS 9 (em tradução livre, Terapia direcionada a metástases em adição à terapia sistêmica padrão no câncer de próstata oligometastático resistente à castração), que avaliou o impacto da radioterapia estereotáxica corporal (SBRT) associada à enzalutamida e privação androgênica (ADT) em pacientes com câncer de próstata resistente à castração e até cinco metástases. A hipótese era de que o controle local das lesões metastáticas poderia prolongar o tempo até progressão radiográfica e retardar a necessidade de nova terapia sistêmica. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Avaliar se a adição de SBRT à combinação de enzalutamida e ADT prolonga a sobrevida livre de progressão radiográfica em pacientes com câncer de próstata resistente à castração oligometastático.

Desenho do estudo

Ensaio clínico randomizado, aberto, multicêntrico, de fase 2, conduzido em 13 centros acadêmicos e comunitários no Canadá.

Número de pacientes

102 homens foram randomizados (49 para ADT–enzalutamida e 53 para ADT–enzalutamida–SBRT). Após exclusão de dois casos (um por grupo), 100 pacientes foram incluídos na análise final.

Período de inclusão

De 18 de outubro de 2016 a 31 de julho de 2023.

Materiais e Métodos

Foram elegíveis homens com adenocarcinoma de próstata confirmado, doença resistente à castração (testosterona ≤1,7 nmol/L) e até cinco metástases detectadas por imagem convencional (TC, RM ou cintilografia óssea). Pacientes com metástases previamente irradiadas ou com uso prévio de antiandrógeno de nova geração foram excluídos. A randomização 1:1 foi estratificada pelo local da metástase.
O grupo experimental recebeu SBRT para todas as lesões metastáticas, com esquemas variando conforme o sítio (exemplo: 24 Gy/2 frações ou 30–40 Gy/5 frações para osso). Enzalutamida (160 mg/dia) foi mantida até progressão ou toxicidade.

Desfechos

O desfecho primário foi a sobrevida livre de progressão radiográfica. Desfechos secundários incluíram sobrevida livre de progressão bioquímica, tempo até nova terapia antineoplásica, sobrevida global, controle local e segurança.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Incluídos homens ≥18 anos, ECOG 0–2, até cinco metástases, progressão bioquímica em castração em primeira linha para CRPC. Excluídos aqueles com metástases cerebrais, comorbidades descompensadas, insuficiência hepática ou renal grave, terapias com radiofármacos ou ARPI prévios. Quimioterapia com docetaxel pelos critérios do CHAARTED no cenário castração sensível foi permitida.

Resultados

A mediana de idade foi 73 anos (intervalo interquartil 67–79,5). A maioria dos pacientes tinha de uma a três metástases (87% dos casos). Cerca de 76% apresentavam doença recorrente após tratamento local prévio. Apenas 1 paciente havia recebido previamente docetaxel aos moldes do CHAARTED. 23-29% dos pacientes tinham doença linfonodal e 52-58% dos casos tinham doença óssea.

Com mediana de seguimento de 4,8 anos, a sobrevida livre de progressão radiográfica foi de 4,6 anos (IC95% 3,7–não alcançado) no grupo ADT–enzalutamida–SBRT versus 2,3 anos (1,4–3,7) no grupo controle (HR 0,48; IC95% 0,27–0,86; p = 0,014).

A sobrevida livre de progressão bioquímica mostrou tendência favorável (4,6 vs 3,1 anos; HR 0,58; p = 0,065). O tempo até nova terapia sistêmica foi significativamente maior com SBRT (5,1 vs 2,9 anos; HR 0,42; p = 0,009). A sobrevida global ainda não havia sido alcançada em nenhum grupo (HR 0,71; p = 0,407).
A maioria das falhas no grupo controle ocorreu nos locais das metástases originais (76%), enquanto no grupo SBRT predominaram novas lesões ósseas. Eventos adversos grau 3 foram semelhantes entre os grupos, sem toxicidades grau 4 nem mortes relacionadas ao tratamento.

Conclusão do Trabalho

A adição de SBRT à enzalutamida e ADT em pacientes com câncer de próstata resistente à castração e até cinco metástases dobrou o tempo mediano de controle radiográfico da doença e retardou a necessidade de nova terapia, sem aumento relevante de toxicidade.

Comentário Editorial

O estudo GROUQ-PCS 9 confirma o benefício da terapia direcionada a metástases com SBRT em pacientes com câncer de próstata oligometastático resistente à castração. Embora o estudo ARTO já tivesse demonstrado melhora de desfechos com SBRT associada à abiraterona, o GROUQ-PCS 9 é o primeiro estudo multicêntrico a demonstrar esse efeito em pacientes estadiados exclusivamente com imagens convencionais, e após seguimento mais longo (mediana de seguimento de 4,8 anos vs. 2 anos no estudo ARTO) . O ganho de controle radiográfico e o atraso da necessidade de nova linha sistêmica ocorreram sem aumento de toxicidade, com padrão de falha concentrado em novas lesões — não nas previamente irradiadas. Em conjunto com ARTO, e à luz dos estudos STOMP e ORIOLE em doença hormônio-sensível e dos ensaios em andamento DECREASE e PCS-X, o GROUQ-PCS 9 consolida a SBRT como estratégia viável e segura para prolongar o controle da doença em pacientes com até cinco metástases no cenário resistente à castração.

Referência

Niazi T, Saad F, Tisseverasinghe S, et al. Metastases-directed therapy in addition to standard systemic therapy in oligometastatic castration-resistant prostate cancer in Canada (GROUQ-PCS 9): a multicentre, open-label, randomised, phase 2 trial. Lancet Oncology. Published online September 2025. doi:10.1016/S1470-2045(25)00351-1

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