
Avelumabe como manutenção de primeira linha em carcinoma urotelial avançado: desfechos em pacientes idosos no estudo JAVELIN Bladder 100
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Introdução
Em março de 2025 foi publicado na revista ESMO Open o estudo, em tradução livre, Avelumabe como manutenção de primeira linha em carcinoma urotelial avançado: desfechos de longo prazo do JAVELIN Bladder 100 em pacientes idosos. O trabalho avaliou a eficácia e a segurança do avelumabe como manutenção após quimioterapia à base de platina em pacientes com carcinoma urotelial localmente avançado ou metastático, especificamente na população com idade igual ou superior a 65 anos. A hipótese era de que a eficácia e a tolerabilidade do avelumabe se manteriam em pacientes mais velhos, grupo frequentemente subtratado.
Confira abaixo mais detalhes do estudo:
Objetivo
Analisar desfechos de sobrevida, segurança e qualidade de vida em subgrupos de pacientes idosos (≥65 anos) tratados com avelumabe como manutenção de primeira linha no JAVELIN Bladder 100.
Desenho do estudo
Estudo internacional, aberto, randomizado, de fase 3.
Número de pacientes
700 pacientes no total; 464 (66,3%) tinham ≥65 anos.
Período de inclusão
Entre 2016 e 2018, com seguimento mediano de 38 a 39,6 meses (data de corte: 4 de junho de 2021).
Materiais e Métodos
Pacientes com carcinoma urotelial localmente avançado ou metastático, sem progressão após 4 a 6 ciclos de quimioterapia à base de cisplatina ou carboplatina mais gemcitabina, foram randomizados 1:1 para avelumabe mais cuidados de suporte ou apenas cuidados de suporte. Foram realizadas análises exploratórias nos subgrupos ≥65, 65–<75, ≥75 e ≥80 anos.
Desfechos
Desfecho primário: sobrevida global.
Desfechos secundários: sobrevida livre de progressão, segurança, eventos adversos relacionados ao tratamento, qualidade de vida ajustada pelo tempo sem sintomas ou toxicidade (Q-TWiST).
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Os critérios de elegibilidade mais importantes do estudo JAVELIN Bladder 100 eram: idade ≥18 anos, ECOG 0–1, doença não progressiva após quimioterapia de primeira linha, sendo excluídos se houvesse progressão durante ou após quimioterapia inicial ou condições clínicas impeditivas para imunoterapia.
Resultados
Entre os pacientes com 65 anos ou mais, a sobrevida global mediana foi de 26,1 meses com avelumabe em comparação a 15,5 meses com cuidados de suporte (HR 0,70; IC95% 0,56–0,89). No subgrupo entre 65 e 74 anos, a mediana foi de 28,7 contra 17,1 meses (HR 0,73). Nos pacientes com 75 anos ou mais, a sobrevida foi de 24,0 contra 13,5 meses (HR 0,59). Já nos com 80 anos ou mais, de 24,9 contra 10,0 meses (HR 0,57). A sobrevida livre de progressão também favoreceu o avelumabe em todos os grupos. Por exemplo, no grupo com 65 anos ou mais, a mediana foi de 7,4 meses contra 2,5 meses (HR 0,46).
Eventos adversos relacionados ao tratamento de grau três ou superior ocorreram em 19,5% dos pacientes com 65 anos ou mais, levando à descontinuação em 14% dos casos. Nos subgrupos etários, a incidência de toxicidade grau três ou superior variou entre 18,5% e 32,1%. Houve dois óbitos atribuídos ao tratamento em pacientes com 75 anos ou mais, incluindo um caso em indivíduo acima de 80 anos. Reações imunes foram observadas em aproximadamente um terço dos pacientes tratados, sendo rash cutâneo e disfunções da tireoide os mais frequentes. Reações relacionadas à infusão ocorreram em cerca de um quarto dos casos, geralmente após a primeira dose. Em pacientes que receberam tratamento por mais de 12 meses, novos eventos adversos ocorreram em cerca de metade, mas apenas 11% foram de grau três ou superior.
A análise de qualidade de vida ajustada pelo tempo sem sintomas ou toxicidade (Q-TWiST) mostrou ganho de 4,57 meses, correspondendo a 30,35% de melhora relativa em favor do avelumabe.
Conclusão do Trabalho
Essa análise exploratória do estudo JAVELIN Bladder 100 demonstrou que o avelumabe como manutenção de primeira linha mantém benefício em sobrevida e é manejável em termos de toxicidade em pacientes idosos, incluindo aqueles com 80 anos ou mais. Idade avançada não deve ser critério exclusivo para não oferecer esse tratamento.
Comentário Editorial
Este trabalho acrescenta uma informação prática importante: a idade avançada, por si só, não deve ser considerada barreira para indicar imunoterapia de manutenção no carcinoma urotelial avançado. Os resultados mostraram benefícios consistentes em sobrevida global e sobrevida livre de progressão, mesmo em pacientes com mais de 75 anos e até em um grupo pequeno com mais de 80 anos. É relevante notar que quase metade dos pacientes com 65 anos ou mais recebeu quimioterapia baseada em cisplatina, o que sugere que, mesmo em idades avançadas, há heterogeneidade no perfil clínico e funcional desses indivíduos. O perfil de segurança foi compatível com o esperado, sem novos sinais de toxicidade, embora alguns eventos graves tenham ocorrido, o que reforça a necessidade de monitoramento cuidadoso.
Do ponto de vista da prática clínica, a análise coloca o avelumabe como opção manejável após quimioterapia à base de platina também em idosos, especialmente porque alternativas como enfortumabe vedotina associado a pembrolizumabe ou combinações com cisplatina podem não ser viáveis para pacientes mais frágeis. O estudo reforça ainda a importância de integrar medidas de qualidade de vida, como o Q-TWiST, que demonstrou ganho relevante mesmo em idosos. Apesar de a análise ser exploratória e o número de pacientes com mais de 80 anos ser reduzido, os dados sustentam que a decisão de não oferecer imunoterapia de manutenção apenas pelo critério etário carece de justificativa científica.
É importante, contudo, reconhecer as limitações do estudo. Trata-se de uma análise exploratória, não planejada como objetivo primário do JAVELIN Bladder 100, e, portanto, sem poder estatístico específico para comparação entre faixas etárias. O número de pacientes com mais de 80 anos foi reduzido, o que limita a precisão das estimativas para esse subgrupo. Além disso, não foram feitas análises detalhadas sobre o impacto de comorbidades, fragilidade ou polifarmácia, que são aspectos clínicos altamente relevantes na população idosa. Essas limitações exigem cautela na interpretação e indicam a necessidade de estudos prospectivos específicos em idosos com carcinoma urotelial.
Referência
Gupta S, Climent Duran MA, Sridhar SS, et al. Avelumab first-line maintenance for advanced urothelial carcinoma: long-term outcomes from the JAVELIN Bladder 100 trial in older patients. ESMO Open. Published online March 18, 2025. doi:10.1016/j.esmoop.2025.104506
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