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Adição do teste germinativo ao sequenciamento somático isolado aumenta a detecção de variantes germinativas patogênicas em homens com câncer de próstata

Autores do Artigo: 

Jacob E. Berchuck, Daniel Boiarsky, Rebecca Silver et al.

Revista

JCO Precision Oncology

Data da publicação

Agosto 2022

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Agosto 2025

  

Introdução

Em setembro de 2022 foi publicado na revista JCO Precision Oncology o estudo que avaliou o valor da adição do teste germinativo ao sequenciamento somático isolado em homens com câncer de próstata. A hipótese era que o sequenciamento apenas do tumor poderia subestimar a detecção de variantes germinativas patogênicas clinicamente relevantes, e que a inclusão do teste germinativo aumentaria o número de alterações acionáveis identificadas. O estudo confirmou essa hipótese, mostrando que o sequenciamento somático isolado perde uma parcela significativa de variantes germinativas, embora a combinação de ambos os testes tenha dobrado a chance de detectar alterações clinicamente relevantes. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Avaliar se a adição do teste germinativo ao sequenciamento somático isolado melhora a detecção de variantes germinativas patogênicas em homens com câncer de próstata.

Desenho do estudo

Análise de coorte prospectiva de pacientes incluídos no estudo ProGen (NCT03328091), que comparou diferentes modelos de aconselhamento genético para câncer de próstata.

Número de pacientes

100 homens com câncer de próstata incluídos no estudo ProGen no Dana-Farber ou no Brigham ouWomen’s Hospital

Período de inclusão

Pacientes incluídos no estudo ProGen após aprovação do protocolo em 2017

Materiais e Métodos

Foram avaliados de forma independente o sequenciamento germinativo (painel de 67 genes) e o sequenciamento somático (OncoPanel, três versões, restrito a 49 genes comuns). A análise incluiu variantes patogênicas e provavelmente patogênicas em genes de reparo de DNA homólogo e de mismatch repair, associados à aprovação de terapias-alvo (inibidores de PARP e pembrolizumabe). A resposta clínica ao olaparibe foi avaliada em pacientes com câncer de próstata metastático resistente à castração tratados com esse fármaco.

Desfechos

Proporção de variantes germinativas patogênicas não detectadas no sequenciamento tumoral isolado. Foram avaliadas também a associação de alterações com perda de heterozigosidade e resposta ao olaparibe.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Foram incluídos pacientes com câncer de próstata localizado de risco intermediário desfavorável ou de alto risco, câncer de próstata metastático sensível à castração e câncer de próstata metastático resistente à castração. Foram excluídos os que não realizaram ambos os testes (germinativo e somático).

Resultados

Dos 100 pacientes, 29% tinham doença localizada de risco intermediário desfavorável ou alto risco, 15% doença metastática sensível à castração e 56% doença metastática resistente à castração. O teste germinativo identificou variantes patogênicas em 23% dos pacientes, sendo 17% clinicamente acionáveis, principalmente em BRCA2 (9%), ATM (3%) e CHEK2 (2%).

O sequenciamento tumoral isolado deixou de identificar 4 variantes germinativas (17% do total), sendo uma em PMS2 — clinicamente acionável, mas não reportada por baixa cobertura no locus (<50x) — e três em FH, MITF e MUTYH, que foram filtradas por algoritmos como presumivelmente germinativas. Ao integrar os dois métodos, 33% dos pacientes apresentaram alterações acionáveis.

Entre as variantes germinativas em genes de reparo homólogo, 47% apresentaram perda de heterozigosidade (LOH). Essa perda foi observada em 100% das mutações de BRCA2 em tumores resistentes à castração (n=3/3), em 50% das mutações de BRCA2 em tumores sensíveis (n=3/6) e em 0% das mutações em outros genes de reparo homólogo nos tumores sensíveis. Globalmente, mutações em BRCA2 em tumores resistentes à castração apresentaram maior frequência de LOH do que mutações em outros genes de reparo homólogo em tumores sensíveis (p=0,029). Nos 14 pacientes tratados com olaparibe para doença metastática resistente à castração, todos os 9 com alterações em genes de reparo homólogo (8 BRCA2 e 1 ATM + PALB2) alcançaram resposta PSA50, contra apenas 1 de 5 (20%) no grupo sem essas alterações (p=0,005). A sobrevida livre de progressão radiográfica foi de 23,6 meses nos pacientes com deficiência em reparo homólogo versus 3,7 meses nos demais (HR 0,14; IC95% 0,033–0,60; p=0,0036).

Conclusão do Trabalho

O sequenciamento tumoral isolado falhou em detectar 4 de 24 variantes germinativas patogênicas (17%). A integração dos resultados germinativos e somáticos identificou alterações clinicamente acionáveis em 33% dos pacientes, em comparação a 17% quando considerado apenas o teste germinativo e 19% com o sequenciamento tumoral isolado.

Comentário Editorial

Este estudo demonstra de forma clara que o sequenciamento tumoral isolado não é suficiente para identificar todas as variantes germinativas patogênicas. Em 4 casos, essas variantes não foram reportadas: uma em PMS2 por baixa cobertura de sequenciamento no locus (<50x) e três em FH, MITF e MUTYH, que foram excluídas pelos filtros padrão de variantes presumivelmente germinativas. Esses mecanismos ilustram limitações técnicas que podem privar pacientes e familiares de informações essenciais para tratamento e rastreamento. O achado de maior frequência de perda de heterozigosidade em BRCA2, particularmente em tumores resistentes à castração, ajuda a explicar a associação de BRCA2 com melhor resposta ao olaparibe. As principais limitações do estudo foram o tamanho amostral relativamente pequeno, a análise restrita aos genes comuns aos dois painéis e a predominância de pacientes brancos, o que pode reduzir a generalização dos resultados.

Referência

Berchuck JE, Boiarsky D, Silver R, et al. Addition of germline testing to tumor-only sequencing improves detection of pathogenic germline variants in men with advanced prostate cancer. JCO Precis Oncol. Published online September 14, 2022;6:e2200329

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