
Documento Oficial da SUFU sobre Medicamentos Anticolinérgicos para Bexiga Hiperativa e Risco de Demência
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Introdução
Os medicamentos anticolinérgicos são amplamente utilizados no tratamento da bexiga hiperativa (BH) e para sintomas vesicais pós-cirúrgicos. No entanto, há um crescente corpo de evidências que sugere uma associação entre o uso desses medicamentos e um aumento no risco de demência. Considerando a inexistência de cura para a demência e a importância da prevenção e redução de riscos, a Society for Urodynamics, Female Pelvic Medicine, and Urogenital Reconstruction (SUFU) reuniu um comitê de especialistas para analisar e contextualizar o conhecimento atual sobre os riscos cognitivos associados aos anticolinérgicos na população urológica, fornecendo orientações clínicas práticas sobre o tema.
Objetivo
O objetivo deste documento foi contextualizar a compreensão atual sobre os riscos cognitivos dos medicamentos anticolinérgicos em pacientes urológicos e fornecer orientações clínicas práticas para a prescrição desses medicamentos, dada a associação entre o uso crônico e o risco de demência.
Desenho do estudo
Documento oficial (white paper) baseado em revisão da literatura especializada e na opinião de um comitê de especialistas, com aprovação do conselho da SUFU.
Materiais e Métodos
O documento foi elaborado a partir de uma revisão exaustiva da literatura científica e do consenso de um comitê de especialistas. As declarações e recomendações contidas no documento refletem a opinião desses especialistas, baseada nas melhores evidências disponíveis. O processo incluiu a revisão e aprovação pelo conselho da SUFU para garantir a validade e relevância das orientações.
Desfechos
Os desfechos deste trabalho são as seis declarações principais e as conclusões do comitê de especialistas sobre o uso de anticolinérgicos para BH e o risco de demência.
Resultados
- Uso Crônico e Risco de Demência: O uso crônico (acima de 3 meses) de medicamentos anticolinérgicos para BH está provavelmente associado a um aumento do risco de demência de novo início. Estudos observacionais mostram um aumento de risco de aproximadamente 10% a 65%, com um aumento absoluto pequeno (1% a 5% em um período de 15 a 20 anos), resultando em um "número necessário para causar dano" (NNH) de 37.
- Uso em Curto Prazo: O uso em curto prazo (menos de 4 semanas) da maioria dos anticolinérgicos para BH é provavelmente seguro para a maioria dos indivíduos. No entanto, o cloridrato de oxibutinina de liberação imediata (LI) demonstrou efeitos cognitivos deletérios em curto prazo, como impacto na memória, tempo de reação e atenção. Pacientes frágeis, idosos, com comprometimento cognitivo basal ou polifarmácia significativa podem ser mais vulneráveis.
- Preferência por Agonistas Beta-3: Quando a terapia farmacológica é indicada para BH, a preferência deve ser dada aos agonistas beta-3 (mirabegron ou vibegron) antes dos anticolinérgicos, devido à sua eficácia equivalente e à ausência de preocupações fisiopatológicas conhecidas ou racionais que os liguem ao risco de demência.
- Escolha de Anticolinérgicos: Se os anticolinérgicos forem indicados, o cloridrato de oxibutinina LI deve ser evitado. Alternativas com perfis neurofarmacológicos mais favoráveis, como formulações de liberação prolongada, trospium, darifenacina e fesoterodina, são preferíveis, pois apresentam menor penetração na barreira hematoencefálica.
- Consideração do Risco Cognitivo em Todas as Populações: Os médicos devem considerar os potenciais riscos cognitivos dos anticolinérgicos em todas as populações de pacientes, independentemente da idade, ao prescrever uso crônico, devido à possibilidade de efeitos retardados (até 15-20 anos) e cumulativos.
- Terapias Avançadas Precocemente: Deve-se considerar a progressão para terapias avançadas (toxina botulínica ou neuromodulação) mais cedo no algoritmo de tratamento da BH para pacientes apropriados, especialmente aqueles que não respondem à terapia comportamental e conservadora. Neuromodulação (tibial posterior ou sacral) e toxina botulínica mostraram ser mais eficazes que anticolinérgicos em alguns estudos.
Conclusão do Trabalho
A literatura atual sugere um pequeno, mas significativo, aumento do risco de demência com a exposição crônica a medicamentos anticolinérgicos para BH. Os potenciais danos devem ser ponderados em relação à potencial melhoria da qualidade de vida proporcionada pelo tratamento. Questões importantes permanecem sem resposta, como a ligação causal exata, o limiar de exposição para o desenvolvimento de demência e a segurança em populações específicas. Contudo, as evidências disponíveis apoiam o uso preferencial de outras terapias eficazes e de baixo risco, não anticolinérgicas, para a BH, e a consideração precoce de terapias avançadas.
Comentário Editorial
Este documento de consenso da SUFU oferece uma perspectiva crítica e altamente relevante para a prática urológica, especialmente na abordagem da bexiga hiperativa (BH). A discussão sobre os riscos cognitivos associados aos anticolinérgicos é um lembrete importante da complexidade de equilibrar a eficácia sintomática com a segurança a longo prazo, particularmente em uma população que tende a envelhecer.
A principal implicação prática é a necessidade de uma tomada de decisão compartilhada e informada com o paciente. A conscientização sobre o risco, mesmo que pequeno e demorado, de demência com o uso crônico de anticolinérgicos deve ser parte integrante da discussão terapêutica. A preferência por agonistas beta-3 como terapia de primeira linha farmacológica, e a escolha criteriosa de anticolinérgicos com perfis neurofarmacológicos mais favoráveis (evitando a oxibutinina de liberação imediata), tornam-se imperativas. Para pacientes que não respondem ou não toleram as terapias iniciais, o documento endossa a consideração precoce de terapias avançadas, como a toxina botulínica intravesical ou a neuromodulação sacral/tibial, que oferecem eficácia comprovada sem os riscos cognitivos associados aos anticolinérgicos.
- Mecanismo Causal e Dose-Resposta: É fundamental realizar estudos prospectivos para estabelecer se existe uma relação causal direta entre anticolinérgicos e demência, bem como para definir o limiar de dose e duração de exposição que representa maior risco.
- Segurança em Populações Específicas: A falta de dados em populações mais jovens e com disfunção neurogênica do trato urinário inferior (DNTUI) é uma área crítica que precisa ser investigada. Compreender os efeitos cumulativos e a longo prazo nessas populações é essencial para orientar a prática clínica futura.
- Novas Terapias e Biomarcadores: O desenvolvimento de novas terapias para BH que sejam eficazes e seguras do ponto de vista cognitivo é uma prioridade. Além disso, a identificação de biomarcadores que possam prever quais pacientes têm maior risco de desenvolver demência com o uso de anticolinérgicos permitiria uma personalização ainda maior do tratamento.
Este white paper serve como um guia essencial para a prática clínica, incentivando uma abordagem mais consciente e multifacetada no manejo da BH, com foco na otimização dos resultados clínicos e na minimização dos riscos a longo prazo para o paciente.
Referência
Zillioux J, Welk B, Suskind AM, Gormley EA, Goldman HB. SUFU white paper on overactive bladder anticholinergic medications and dementia risk. Neurourol Urodyn. 2022;41(8):1928-1933. doi:10.1002/nau.25037. PMID: 35984639.
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