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Eficácia e segurança da farmacoterapia combinada em pacientes com bexiga hiperativa

Autores do Artigo

Christian Gratzke, Christopher Chapple, Elizabeth R Mueller, Dudley Robinson, Catherine Rolland, David Staskin, Matthias Stoelzel, Rob van Maanen, Emad Siddiqui

Revista

European Urology

Data da publicação

Agosto 2019

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Junho 2025

  

Introdução

Em dezembro de 2019, foi publicado na revista European Urology o estudo “Eficácia e segurança da farmacoterapia combinada em pacientes com bexiga hiperativa”, que avaliou a eficácia e segurança do uso combinado de β3-adrenoreceptor agonista (mirabegron) e antimuscarínico (solifenacina), além de combinações de dois antimuscarínicos, no tratamento da bexiga hiperativa (OAB). A revisão demonstrou que a combinação mirabegron + solifenacina resulta em melhora significativa dos sintomas clínicos e da qualidade de vida dos pacientes, com perfil de segurança semelhante ao das monoterapias, configurando-se como uma alternativa terapêutica eficaz para casos refratários ou de maior gravidade.

Objetivo

Revisão rápida de evidências baseada em literatura publicada. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (RCTs) e estudos de segurança/eficácia da terapia farmacológica combinada — β3-adrenoreceptor agonista (mirabegron) + antimuscarínico (solifenacina), ou a combinação de dois antimuscarínicos — no tratamento de pacientes com bexiga hiperativa (OAB), com foco em melhora clínica dos sintomas, impacto na qualidade de vida e perfil de tolerabilidade.

Desenho do estudo

Revisão rápida de evidências (Rapid Evidence Assessment), baseada em uma busca sistemática realizada em junho de 2018 nas bases Embase, MEDLINE, Cochrane e em resumos de congressos. Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (RCTs) que avaliaram a eficácia, segurança e impacto em qualidade de vida da terapia combinada com β3-adrenoreceptor agonista (mirabegron) + antimuscarínico (solifenacina) ou de dois antimuscarínicos, no tratamento de pacientes com OAB. A análise consistiu em síntese qualitativa dos achados dos estudos selecionados.

Número de pacientes

Foram analisados os principais estudos randomizados com populações variáveis: SYMPHONY (~1306 pacientes), SYNERGY (~2384 pacientes), BESIDE (~2197 pacientes) e SYNERGY II (~1794 pacientes). Estudos adicionais com terapia combinada de dois antimuscarínicos também foram incluídos, mas sem descrição consolidada do total de pacientes.

Período de inclusão

Não descrito de forma consolidada na revisão. Nos estudos primários incluídos, os períodos de inclusão variaram entre 2012 e 2015, conforme publicado nos artigos originais dos RCTs (SYMPHONY, SYNERGY, BESIDE e SYNERGY II).

Materiais e Métodos

Foi realizada uma revisão rápida de evidências com busca sistemática realizada em junho de 2018 nas bases de dados Embase, MEDLINE e Cochrane (via Ovid), além de resumos de congressos relevantes.

Foram incluídos ensaios clínicos randomizados (RCTs) e estudos que reportassem dados de eficácia, segurança e qualidade de vida com uso de terapia combinada:

  • β3-adrenoreceptor agonista (mirabegron) + antimuscarínico (solifenacina) ou

  • dupla terapia com dois antimuscarínicos (ex.: trospium + solifenacina).

Critérios de inclusão:

  • Estudos com duração mínima de 12 semanas;

  • População adulta com diagnóstico de bexiga hiperativa (OAB);

  • Dados disponíveis sobre desfechos clínicos, segurança e/ou impacto em qualidade de vida.

Critérios de exclusão:

  • Estudos com terapia não oral;

  • Populações pediátricas;

  • Estudos não randomizados.

Os principais RCTs incluídos foram SYMPHONY, SYNERGY, BESIDE e SYNERGY II, além de cinco estudos adicionais com combinação de dois antimuscarínicos.

A síntese dos resultados foi qualitativa, sem realização de metanálise formal.

Desfechos

  • Desfechos primários:

    • Redução no número de episódios de incontinência urinária em 24 horas;

    • Redução no número de micções em 24 horas.

  • Desfechos secundários:

    • Melhora dos sintomas de bexiga hiperativa (OAB);

    • Melhora em escalas de qualidade de vida relacionada à saúde (HRQoL), incluindo OAB-5D scores;

    • Avaliação da tolerabilidade e da incidência de eventos adversos com a terapia combinada em comparação com monoterapias.

  • Segurança:

    • Incidência geral de eventos adversos (AEs);

    • Incidência de eventos adversos específicos (ex.: boca seca, constipação, hipertensão);

    • Taxa de descontinuação por efeitos adversos.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Critérios de inclusão: estudos com duração mínima de 12 semanas; população adulta com diagnóstico de OAB; desfechos clínicos, segurança e qualidade de vida reportados.



Critérios de exclusão: estudos com terapia não oral; populações pediátricas; estudos não randomizados.

Resultados

Desfecho Combinação Mirabegron + Solifenacina Monoterapia P/Significância
Redução de episódios de incontinência urinária (UI) (SYMPHONY, SYNERGY, BESIDE) Significativa melhora com M25+S5 e M50+S5 vs. S5 e vs. placebo Solifenacina 5 mg ou 10 mg p < 0,001 (BESIDE); p = 0,001 (BESIDE vs. S5); significância em SYNERGY e SYMPHONY
Redução no número de micções em 24h Superior com M50+S5 vs. S10 (BESIDE) Solifenacina 10 mg p < 0,001
Melhora em OAB-5D scores (qualidade de vida) Maior melhora com M50+S5 vs. S5 e S10 Solifenacina 5 mg e 10 mg p < 0,01
Sustentação dos resultados em longo prazo (12 meses) (SYNERGY II) Clínica e estatisticamente significativa, sustentada por 12 meses Mirabegron 50 mg ou Solifenacina 5 mg Resultados sustentados e favoráveis
Incidência de eventos adversos (EA) Sem aumento relevante de EA vs. monoterapias Mirabegron e Solifenacina isolados Similar entre os grupos; perfil de tolerabilidade favorável
Estudos com dois antimuscarínicos (trospium + solifenacina) Resultados positivos em 5 estudos, sugerindo benefício adicional em sintomas moderados a graves Monoterapias Dados limitados, sem pooling de resultados

Nos estudos analisados, a combinação de mirabegron + solifenacina resultou em melhoras significativas e clinicamente relevantes nos sintomas de OAB (episódios de incontinência urinária e frequência miccional), com impacto positivo na qualidade de vida. O estudo SYNERGY II demonstrou que esses benefícios foram sustentados ao longo de 12 meses de seguimento.

O perfil de segurança da combinação foi semelhante ao das monoterapias, com baixa taxa de descontinuação por eventos adversos.

Estudos adicionais com dupla terapia antimuscarínica (trospium + solifenacina) também demonstraram resultados positivos, principalmente em pacientes com sintomas moderados a graves, embora com dados mais limitados.

Conclusão do Trabalho

O presente estudo reforça que a combinação de mirabegron e solifenacina constitui uma opção eficaz e bem tolerada para o manejo da bexiga hiperativa, proporcionando melhora clínica sustentada e qualidade de vida superior em comparação às monoterapias. Embora os dados sobre terapia combinada com dois antimuscarínicos sejam mais limitados, os resultados disponíveis sugerem benefícios adicionais em pacientes com sintomas moderados a graves.

Comentário Editorial

Esta revisão rápida de evidências confirma que a combinação de mirabegron e solifenacina é uma estratégia eficaz e bem tolerada para o manejo da bexiga hiperativa, proporcionando melhora sustentada dos sintomas urinários e da qualidade de vida, com um perfil de segurança comparável ao das monoterapias. Os achados corroboram as evidências já existentes de que o uso combinado pode ser particularmente útil em pacientes com resposta subótima à monoterapia.

Embora os resultados sejam consistentes, algumas limitações devem ser consideradas: a revisão não realizou uma metanálise quantitativa formal; os estudos avaliados utilizaram desenhos e populações heterogêneas; e os dados referentes à terapia combinada de dois antimuscarínicos ainda são limitados, exigindo mais investigação.

De forma geral, os resultados reforçam que a combinação de mirabegron + solifenacina representa uma opção terapêutica valiosa para pacientes com OAB, especialmente naqueles com sintomas persistentes sob monoterapia. O uso de dupla terapia antimuscarínica pode ser considerado em casos selecionados, porém ainda requer evidências adicionais para maior respaldo clínico.

Referência

Gratzke C, Chapple C, Mueller ER, et al. Efficacy and Safety of Combination Pharmacotherapy for Patients with Overactive Bladder: A Rapid Evidence Assessment. Eur Urol. 2019;76(6):767-779. doi: 10.1016/j.eururo.2019.07.010.

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