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Módulo Didático da ICS sobre Urodinâmica para Sintomas do Trato Urinário Inferior em Homens

Autores do Artigo: 

Sinha S, Tarcan T, Speich J, et al.

Journal

Continence

Data da publicação

Junho 2025

Autor do Resumo

Editor de Seção

  

Introdução

Este módulo didático da International Continence Society (ICS) oferece uma revisão abrangente e baseada em evidências sobre a avaliação urodinâmica em homens com Sintomas do Trato Urinário Inferior (STUI). Desenvolvido pelo Comitê de Urodinâmica da ICS, o material serve como um guia prático para profissionais de saúde, detalhando as indicações, a preparação pré-exame, a técnica urodinâmica, os achados chave e a interpretação dos resultados em homens adultos que apresentam STUI de esvaziamento ou armazenamento refratários. O documento visa consolidar o conhecimento sobre a utilidade da urodinâmica na tomada de decisões terapêuticas e no prognóstico, especialmente antes de intervenções invasivas.

Objetivo

Apresentar o corpo de evidências sobre a avaliação e diagnóstico urodinâmico dos STUI masculinos, servindo como base científica e fundamentação para a apresentação disponível no site da ICS sobre Urodinâmica em STUI masculinos.

Desenho do estudo

Módulo didático desenvolvido pelo Comitê de Urodinâmica da ICS como uma ferramenta de prática clínica. Baseia-se em evidências, diretrizes de prática clínica, documentos de padronização existentes da ICS e consenso dos membros do Grupo de Trabalho.

Materiais e Métodos

O módulo examina indicações, preparação pré-exame, técnica urodinâmica, achados chave e interpretação da urodinâmica em homens adultos com STUI de esvaziamento ou armazenamento refratários.

Resultados

A urodinâmica invasiva é útil em homens selecionados com STUI e geralmente é oferecida apenas quando tratamentos invasivos estão sendo considerados. A combinação de informações urodinâmicas com dados clínicos é recomendada.

  • Indicações: Não é rotineiramente recomendada antes de cirurgias de próstata, conforme diretrizes. No entanto, é considerada em situações específicas, como em homens com idade <50 ou >80 anos, em tratamento invasivo sem esvaziamento adequado da bexiga ou com PVR elevado (>300 mL), ou após tratamento invasivo sem sucesso. É crucial para diferenciar obstrução de bexiga (BOO) de hipocontratilidade do detrusor (DU) em casos de retenção urinária.
  • Avaliação Inicial: Deve incluir uma anamnese detalhada, diário miccional (se possível), questionários de sintomas (ex: IPSS, ICIQ-MLUTS) e exame físico, incluindo toque retal e ultrassonografia prostática. A urinálise é essencial para identificar infecções.
  • Preparação Pré-Exame: Rastreio para Infecção do Trato Urinário (ITU) é mandatório, adiando o exame se houver infecção sintomática. Profilaxia antibiótica não é rotina, mas é indicada em pacientes de risco (idade >70, imunossupressão, PVR elevado, cateterismo).
  • Técnica: O enchimento pode ser realizado com o paciente sentado ou em pé, e o estudo de pressão-fluxo na posição de micção usual. Cateteres finos de lúmen duplo (7-8F) são recomendados. A taxa de enchimento ideal é de 10% do volume máximo de micção por minuto. Testes de tosse e calibração são cruciais para garantir a qualidade dos dados.
  • Achados Chave: A urodinâmica permite identificar a bexiga hiperativa (DO), incontinência de urgência (DOI) e baixa complacência. O estudo de pressão-fluxo diferencia BOO de DU, utilizando índices como ICS-BOOI e ICS-DCI.
  • Interpretação e Implicações do UPSTREAM Trial: O ensaio UPSTREAM demonstrou que a urodinâmica não precisa ser realizada rotineiramente em todos os homens antes da cirurgia de próstata, pois a melhora dos sintomas e a taxa de cirurgia foram semelhantes com ou sem urodinâmica. Contudo, reforça que o uso seletivo da urodinâmica é vital, especialmente para prever resultados cirúrgicos e em pacientes com achados clínicos específicos (Qmax > 13 ml/s). A avaliação da qualidade dos dados clínicos (diários, questionários) é fundamental. A cirurgia também apresenta maior probabilidade de bom resultado em homens com idade < 74 anos, Qmáx < 9,8 ml/s, IPSS > 16, pontuação de qualidade de vida do IPSS > 4 e pontuação total do ICIQ > 18. Quando os resultados do UDS estão disponíveis, a cirurgia é mais bem-sucedida com um BOOI > 47,6 e/ou BCI (ICS-DCI) > 123,0. Se Qmáx for 13 ou superior, a urodinâmica deve ser fortemente considerada.

Comentário Editorial

Este módulo didático da ICS é um documento de extrema relevância para a prática urológica, fornecendo um guia detalhado e atualizado sobre a urodinâmica em homens com STUI. Como médico urologista, entendo a importância de ter acesso a diretrizes claras para a indicação e execução desse exame, que, embora invasivo, permanece insubstituível em cenários selecionados para elucidação diagnóstica e otimização da estratégia terapêutica.
A principal mensagem a ser extraída é a da utilização seletiva da urodinâmica. O estudo UPSTREAM, frequentemente citado no módulo, reforçou que a urodinâmica não deve ser um exame de rotina para todos os pacientes com STUI antes da cirurgia, desafiando uma prática comum. No entanto, sua importância é reafirmada em casos complexos ou refratários, onde o diagnóstico diferencial entre obstrução e hipocontratilidade do detrusor é crucial para o sucesso da intervenção. Para o médico que busca resultados mensuráveis e decisões baseadas em dados concretos, a urodinâmica, quando bem indicada e realizada, oferece informações valiosas para individualizar o tratamento, especialmente para guiar a escolha entre diferentes abordagens cirúrgicas e para prever o risco de desfechos insatisfatórios.
É fundamental que os profissionais dominem não apenas a interpretação dos resultados, mas também a correta coleta dos dados, como enfatizado nas seções de técnica e controle de qualidade. A compreensão das limitações dos testes não invasivos e a capacidade de integrar os achados urodinâmicos com o quadro clínico do paciente são competências essenciais que este módulo busca aprimorar. Para residentes e estudantes, este material é uma excelente base para entender a complexidade dos STUI masculinos e o papel refinado da urodinâmica na avaliação e manejo desses pacientes, incentivando uma abordagem mais precisa e centrada no paciente.

Referência

Sinha S, Tarcan T, Speich J, et al. ICS teaching module on urodynamics for lower urinary tract symptoms in men. Continence. 2025;14:101758.

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