
Níveis de PSA aos 60 anos e risco de câncer de próstata letal durante a vida
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Introdução
Em setembro de 2025 foi publicado na revista Journal of the National Cancer Institute o estudo, em tradução livre, "Níveis de PSA aos 60 anos e risco de câncer de próstata letal durante a vida", que avaliou a relação entre a dosagem de PSA aos 60 anos e a mortalidade por câncer de próstata ao longo da vida em uma coorte sueca de indivíduos não rastreados para câncer de próstata seguidos por 40 anos. A hipótese era que um único valor de PSA nessa idade poderia predizer com precisão o risco vitalício de câncer de próstata letal e que a razão PSA livre/total poderia refinar a estratificação em homens com PSA baixo. Confira abaixo mais detalhes do estudo:
Objetivo
Avaliar se o PSA medido aos 60 anos prediz o risco de morte por câncer de próstata ao longo da vida e se a adição do PSA livre melhora essa avaliação em homens com PSA baixo.
Desenho do estudo
Coorte prospectiva (Malmö Preventive Project), com seguimento de 40 anos.
Número de pacientes
1162 homens incluídos; 1151 mortes registradas até 31 de dezembro de 2020.
Período de inclusão
1981–1982, com seguimento até 2020.
Materiais e Métodos
O estudo utilizou dados do Malmö Preventive Project (MPP), uma coorte populacional estabelecida no início da década de 1980. Todos os homens nascidos em 1921 e residentes em Malmö, Suécia, foram convidados a participar em 1981–1982, com taxa de adesão de 71%. Os participantes, com idades entre 58 e 62 anos no momento da coleta, forneceram amostras de sangue e responderam questionários detalhados sobre histórico médico e hábitos de vida.
As informações individuais foram posteriormente vinculadas ao Registro Nacional de Câncer da Suécia, que permitiu identificar casos de câncer de próstata diagnosticados até 31 de dezembro de 2006. Importante destacar que o rastreamento por PSA não estava disponível na Suécia até meados da década de 1990 e só passou a ser usado com maior frequência após 2000, quando os integrantes desta coorte já tinham ultrapassado os 80 anos. Dessa forma, assume-se que poucos, se algum, foram submetidos ao rastreamento durante a vida.
Os dados atualizados sobre data e causa de morte foram obtidos até 31 de dezembro de 2020, período em que a maioria dos participantes já havia alcançado aproximadamente 100 anos de idade. A acurácia das informações provenientes dos registros suecos é considerada alta, conforme validações prévias realizadas em diferentes estudos epidemiológicos.
A dosagem de PSA foi realizada em um desenho de caso-controle aninhado dentro da coorte. Homens diagnosticados com câncer de próstata até 31 de dezembro de 2006 foram selecionados como casos, sendo cada um pareado com três controles sem câncer no mesmo período, de acordo com idade e data da coleta de sangue (margem de até ±3 meses). Para esse subconjunto, foram medidos PSA total e PSA livre em amostras de plasma coletadas em 1981–1982 e armazenadas a −20 °C, condição previamente validada quanto à estabilidade das proteínas analisadas.
Os participantes que não foram incluídos no desenho de caso-controle não tiveram PSA mensurado diretamente. Para esses indivíduos, aplicou-se uma estratégia de imputação múltipla em 10 repetições, previamente validada, a fim de estimar os valores de PSA total e PSA livre. A imputação foi realizada de forma diferenciada para três grupos: homens sem câncer de próstata, homens diagnosticados mas que não morreram da doença, e homens que faleceram por câncer de próstata. O PSA total foi imputado com base na idade no momento da triagem, enquanto o PSA livre foi imputado a partir da idade e do valor imputado de PSA total.
Esse método permitiu obter uma base de dados completa e representativa para todos os 1162 participantes da coorte, garantindo maior poder estatístico para as análises de risco de morte por câncer de próstata ao longo do seguimento.
Desfechos
Primário: mortalidade por câncer de próstata.
Secundários: risco vitalício de diagnóstico de câncer de próstata, anos de vida perdidos e valor discriminatório do PSA livre.
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Incluídos homens nascidos em 1921 residentes em Malmö, que participaram do Malmö Preventive Project. Foram excluídos 5 indivíduos com diagnóstico prévio de câncer de próstata no momento da coleta.
Resultados
Foram incluídos 1162 homens com idade entre 58 e 62 anos no momento da coleta (1981–1982). Destes, 1151 (99%) haviam falecido até 31/12/2020, e apenas 11 estavam vivos ou sem acompanhamento completo.
O PSA aos 60 anos mostrou forte capacidade preditiva para mortalidade por câncer de próstata ao longo da vida (C-index 0,87; IC 95% 0,82–0,92). No total, 52 homens morreram da doença. Entre eles, 11 tinham PSA ≤ 2,0 ng/ml, 12 tinham PSA entre 2,1–4,0 ng/ml e 24 tinham PSA > 4,0 ng/ml; em 5 não havia PSA medido. Mais da metade dos anos de vida perdidos por câncer de próstata ocorreu em homens com PSA > 4,0 ng/ml (59%, IC 95% 54–63%). Homens com PSA acima do percentil mediano (>1,0 ng/ml) responderam por 87% das mortes e 92% dos anos de vida perdidos.
O risco vitalício de morte foi de 1,9% para PSA de 1,0 ng/ml, 4,9% para PSA de 2,0 ng/ml, 12% para PSA de 3,3 ng/ml e 17% para PSA de 5,0 ng/ml. Entre os homens com PSA < 1 ng/ml, não houve retorno ao risco médio populacional mesmo em seguimento estendido. O PSA livre não acrescentou discriminação nos homens com PSA ≤ 4,0 ng/ml (C-index 0,76 apenas com PSA total vs. 0,77 com PSA livre adicionado).
Conclusão do Trabalho
O PSA aos 60 anos é um forte preditor do risco vitalício de câncer de próstata letal. Homens com PSA < 1–2 ng/ml apresentam risco muito baixo e podem suspender o rastreamento. A adição do PSA livre não trouxe benefício na discriminação de risco em homens com PSA ≤ 4,0 ng/ml e tampouco foi útil para identificar subgrupos de maior risco entre aqueles com PSA < 2,0 ng/ml.
Comentário Editorial
O estudo demonstra que o PSA aos 60 anos prediz a mortalidade por câncer de próstata, sustentando a suspensão do rastreamento em homens com PSA < 1–2 ng/ml. A implicação prática é clara: homens com PSA baixo aos 60 anos podem ser poupados de rastreamento subsequente, reduzindo sobre-diagnóstico e sobre-tratamento. Em contrapartida, a utilidade do PSA livre permanece restrita a situações de PSA mais elevado, não contribuindo na tomada de decisão para valores baixos. Esses achados reforçam dados prévios de coortes suecas e norte-americanas e oferecem base sólida para personalizar estratégias de rastreamento.
Apesar da relevância, há importantes limitações: muitos valores de PSA foram imputados (ou seja, não foram mensurados diretamente mas sim estatisticamente considerados), o que introduz incertezas; o desfecho analisado foi apenas mortalidade, sem dados sobre metástases; e a coorte, formada por homens suecos nascidos em 1921 e sem rastreamento sistemático, pode não refletir populações mais diversas.
Em síntese, os resultados são consistentes, mas sua aplicação deve considerar as particularidades metodológicas e de população.
Referência
Vertosick EA, Vickers A, Dahlin A, Ulmert D, Carlsson SV, Eastham J, Bjartell A, Lilja H. PSA at age 60 and lifetime risk of lethal prostate cancer. J Natl Cancer Inst. Published online September 30, 2025. doi:10.1093/jnci/djaf271
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Postado: set/2025
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