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Terapia sistêmica isolada ou associada à prostatectomia radical no manejo do câncer de próstata oligometastático: estudo randomizado RAMPP

Autores do Artigo: 

Graefen M et al.

Journal

European Urology

Data da publicação

Outubro 2025

Autor do Resumo

Editor de Seção

  

Introdução

Em setembro de 2025 foi publicado na revista European Urology o estudo RAMPP, que avaliou o impacto da adição da prostatectomia radical à melhor terapia sistêmica em pacientes com câncer de próstata oligometastático. A hipótese era de que o tratamento local cirúrgico poderia reduzir a mortalidade específica por câncer. O estudo foi interrompido precocemente após a divulgação dos resultados do braço H do estudo STAMPEDE, mas ainda assim fornece evidências relevantes sobre o papel da cirurgia neste cenário. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Avaliar se a adição da prostatectomia radical à terapia sistêmica reduz a mortalidade específica por câncer de próstata em pacientes com doença oligometastática óssea.

Desenho do estudo

Ensaio clínico randomizado e multicêntrico, conduzido em 39 centros na Alemanha, Suécia, Dinamarca, Áustria, Finlândia e Espanha.

Número de pacientes

132 pacientes foram randomizados (66 para prostatectomia radical + terapia sistêmica e 66 para terapia sistêmica isolada).

Período de inclusão

De maio de 2015 a dezembro de 2018.

Materiais e Métodos

Os pacientes foram randomizados 1:1 para receber prostatectomia radical com linfadenectomia pélvica associada à terapia sistêmica (ADT isolada ou combinada a quimioterapia ou inibidores de via do receptor androgênico) versus terapia sistêmica isolada. A randomização foi centralizada e realizada por sistema web. O desfecho primário foi mortalidade específica por câncer; os desfechos secundários incluíram progressão clínica e sobrevida global. As análises estatísticas incluíram modelos de riscos competitivos (teste de Gray), regressão de riscos proporcionais, curvas de Kaplan-Meier e teste de log-rank.

Desfechos

O desfecho primário foi a mortalidade específica por câncer. Desfechos secundários incluíram progressão clínica (definida como novas lesões ósseas ou de partes moles, ou morte por câncer) e sobrevida global.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Foram incluídos homens recém-diagnosticados (até 6 meses) com câncer de próstata histologicamente confirmado, PSA < 200 ng/mL, e entre 1 e 5 metástases ósseas (com ou sem linfonodais) detectadas por cintilografia, TC, RM ou PET (com diferentes traçadores). O tipo de radiotraçador do PET não foi registrado. Eram elegíveis apenas pacientes de risco intermediário ou alto, clinicamente assintomáticos, aptos para cirurgia e para tratamento de privação androgênica. Foram excluídos casos com metástases viscerais ou cerebrais, histologia neuroendócrina ou pequenas células, ECOG > 1, índice de Charlson > 2 ou comorbidades graves.

Resultados

A mediana de idade foi 67 anos (IQR 63–71) e o PSA basal mediano 20 ng/mL (IQR 10–39). A maioria apresentava até três metástases ósseas (92%) — localizadas predominantemente na pelve (67%), costelas (27%) e coluna (26%) — e 30% tinham acometimento linfonodal. O PET foi utilizado para estadiamento inicial em 30% dos casos.
Entre os pacientes designados ao braço cirúrgico, 94% foram operados; margens positivas ocorreram em 62%, estágio pT3–4 em 79% e linfonodo positivo em 58%. Complicações Clavien-Dindo grau III ocorreram em 9/66 (14%), principalmente por sangramento e deiscência anastomótica.
Após mediana de seguimento de 5 anos (IQR 2–6), a incidência cumulativa de morte específica por câncer foi de 13% no grupo prostatectomia + terapia sistêmica versus 23% no grupo controle (p = 0,037; HR 0,39; IC95% 0,16–0,98). A sobrevida global em 5 anos foi de 81% versus 74% (p = 0,1). Não houve diferença na incidência de progressão clínica (59% vs 60%; HR 1,11; p = 0,7). Eventos adversos graves ocorreram em 24% e 18% dos pacientes, respectivamente.

Conclusão do Trabalho

A adição da prostatectomia radical à terapia sistêmica reduziu a mortalidade específica por câncer de próstata em pacientes com doença oligometastática, sem impacto estatisticamente significante na sobrevida global ou na progressão clínica. O procedimento foi factível, mas associado a risco considerável de complicações cirúrgicas.

Comentário Editorial

O RAMPP é o primeiro ensaio randomizado a avaliar prostatectomia radical em doença oligometastática. Embora limitado pelo tamanho amostral (132 pacientes de 500 planejados) e pela interrupção precoce após os resultados do STAMPEDE Arm H, o estudo mostra tendência consistente à redução da mortalidade específica, em linha com os benefícios previamente observados com radioterapia ao tumor primário.
Entre as limitações relevantes destacam-se o alto índice de complicações cirúrgicas (14% grau III), a ausência de registro dos radiotraçadores utilizados no PET, o uso limitado de intensificação sistêmica (apenas 3% receberam ARPI), e a falta de ganho em sobrevida global. Além disso, o estudo não teve poder estatístico suficiente e possivelmente superestimou o efeito do tratamento devido ao encerramento precoce da inclusão. A interpretação dos achados deve ser prudente, e os resultados de ensaios em andamento — como SWOG S1802, SIMCAP e TRoMbone — serão decisivos para esclarecer o papel da prostatectomia radical como terapia consolidativa no câncer de próstata oligometastático.

Referência

Graefen M, Falkenbach F, Maurer T, et al. Best Systemic Therapy With or Without Radical Prostatectomy in the Management of Men With Oligometastatic Prostate Cancer: The RAMPP Randomised Controlled Trial. Eur Urol. Published online September 16, 2025. doi:10.1016/j.eururo.2025.09.4144

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