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Impacto dos cânceres urológicos na população economicamente ativa de 1990 a 2021 e projeções até 2050

Autores do Artigo: 

Junyan Chen & Cen Meng

Journal

Annals of Surgical Oncology

Data da publicação

Abril 2025

Apoio educacional:

  

Introdução

Em abril de 2025 foi publicado na revista Annals of Surgical Oncology o estudo, em tradução livre - Impacto dos cânceres urológicos na população economicamente ativa de 1990 a 2021 e projeções até 2050, que avaliou a incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade dos cânceres de próstata, rim, testículo e bexiga na população economicamente ativa mundial, usando dados do Global Burden of Disease 2021. A hipótese era de que esses tumores têm aumentado de forma relevante entre indivíduos em idade produtiva e que o impacto é maior em países com maior nível de desenvolvimento, com tendência de manutenção ou piora até 2050. O estudo confirmou aumento importante do impacto desses cânceres na força de trabalho global, com forte influência de fatores demográficos e desigualdades marcadas entre regiões, especialmente em países de alta renda. Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Analisar, em escala global, regional e nacional, as tendências de três décadas do impacto dos cânceres de próstata, rim, testículo e bexiga na população entre 15 e 64 anos, incluindo incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade, além de projetar esses indicadores até 2050 e avaliar desigualdades em saúde de acordo com o nível de desenvolvimento sociodemográfico.

Desenho do estudo

Estudo ecológico, descritivo e analítico, baseado em dados agregados do Global Burden of Disease 2021 para 371 doenças em 204 países e territórios, com foco específico em quatro cânceres urológicos na população em idade laboral. Foram utilizadas técnicas de regressão por pontos de junção, decomposição de fatores, modelo Bayesiano idade–período–coorte, índices de concentração e de inclinação e análises de fronteira em relação ao Índice Sociodemográfico.

Número de pacientes

Não se aplica. Trata-se de análise populacional baseada em estimativas agregadas do Global Burden of Disease 2021 para 204 países e 811 regiões subnacionais, sem inclusão individual de pacientes.

Período de inclusão

Foram analisados dados anuais de 1990 a 2021, com projeções dos desfechos principais para o período de 2022 a 2050 por meio de modelo Bayesiano idade–período–coorte.

Materiais e Métodos

Os autores extraíram do Global Burden of Disease 2021 estimativas de incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade para câncer de próstata, rim, testículo e bexiga em indivíduos de 15 a 64 anos, definidos como força de trabalho segundo parâmetros da Organização Mundial da Saúde. Foram calculadas taxas padronizadas por idade para cada desfecho em 204 países e territórios. A regressão por pontos de junção foi usada para quantificar variações anuais e médias anuais de variação nas taxas ao longo do tempo. Análises de decomposição separaram a contribuição de envelhecimento, crescimento populacional e mudanças epidemiológicas para a variação do impacto da doença. O modelo Bayesiano idade–período–coorte foi aplicado para projetar tendências globais de 2022 a 2050. Índice de concentração e slope index avaliaram inequidades relativas e absolutas entre países segundo o Índice Sociodemográfico, e a análise de fronteira relacionou desempenho em mortalidade e incidência com o nível de desenvolvimento ao longo de 1990–2021.

Desfechos

Os principais desfechos foram as taxas padronizadas por idade de incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade para os quatro cânceres urológicos na população em idade laboral, suas tendências entre 1990 e 2021 e as projeções até 2050. Desfechos adicionais incluíram a decomposição da variação do impacto da doença em componentes demográficos e epidemiológicos, a correlação entre o impacto desses cânceres e o Índice Sociodemográfico e o grau de desigualdade entre países medido por índices de concentração, slope index e análise de fronteira.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Foram incluídos apenas populações entre 15 e 64 anos, caracterizando a população economicamente ativa, com diagnóstico de câncer de próstata, rim, bexiga ou testículo, conforme codificação de causas no estudo Global Burden of Disease. A análise contemplou 204 países e territórios, agregados em regiões e estratos por Índice Sociodemográfico. Cânceres urológicos fora das quatro localizações avaliadas, faixas etárias fora de 15–64 anos e países sem dados suficientes foram tratados indiretamente pelos modelos do GBD, não entrando como estratos específicos na análise principal.

Resultados

Nas últimas três décadas, a incidência e a prevalência de câncer de próstata, rim e testículo aumentaram de forma consistente na população economicamente ativa, com o câncer de testículo apresentando o crescimento mais acentuado: entre 1993 e 1997, as taxas de incidência e prevalência de câncer de testículo cresceram em média 3,22% e 3,96% ao ano, respectivamente, e no período global de 1990 a 2021 o aumento médio anual foi de 1,61%. No cenário global, bexiga e rim ocupam, respectivamente, a 10ª e a 14ª posições entre os cânceres mais diagnosticados. Os mapas mostram níveis elevados de prevalência e mortalidade dos quatro tumores urológicos na América do Norte, norte da Ásia e Europa, com os Estados Unidos se mantendo no primeiro estrato de prevalência para todos os quatro cânceres em 1990, 2000, 2010 e 2021. Para câncer de rim em particular, o estudo destaca a Rússia como país de alta prevalência e mortalidade em todos os quatro anos analisados, sempre no estrato mais alto de impacto, sugerindo tendência sustentada de doença mais frequente e mais letal na população em idade laboral.

Entre 1990 e 2010, a incidência e a prevalência de câncer de rim aumentaram de forma contínua na análise de pontos de junção, sem períodos de queda. Em termos geográficos, a mortalidade por todos os quatro cânceres, incluindo o de rim, vem diminuindo na Ásia, enquanto a prevalência segue em alta, refletindo maior número de sobreviventes vivendo com a doença; já na América do Norte, tanto prevalência quanto mortalidade apresentam tendência de queda, sugerindo combinação de prevenção, diagnóstico precoce e melhora terapêutica.

Do ponto de vista de desigualdade em saúde, a correlação entre incidência e prevalência de câncer de rim e o Índice Sociodemográfico é a mais forte entre os quatro tumores (R = 0,67 para incidência e R = 0,68 para prevalência; p < 0,001), indicando que países mais desenvolvidos concentram desproporcionalmente o impacto desse tumor na força de trabalho. Além disso, os índices de concentração mostram que, entre 1990 e 2021, incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade para câncer de rim tornaram-se progressivamente mais concentrados em países de alto desenvolvimento, configurando ampliação da desigualdade relativa.

Conclusão do Trabalho

O estudo mostra que os cânceres de próstata, rim, bexiga e testículo exercem impacto relevante e crescente sobre a população economicamente ativa mundial, impulsionado principalmente pelo envelhecimento e crescimento populacional, com participação variável de mudanças epidemiológicas, especialmente no câncer de testículo. As projeções até 2050 indicam manutenção ou aumento desse impacto, o que reforça a necessidade de estratégias articuladas de prevenção, detecção precoce, organização do cuidado e reabilitação laboral voltadas a indivíduos em idade produtiva.

Comentário Editorial

Este trabalho amplia a literatura baseada no Global Burden of Disease ao focar explicitamente na população em idade produtiva e em quatro cânceres urológicos centrais, oferecendo uma visão macro da interação entre impacto oncológico, estrutura demográfica e desenvolvimento socioeconômico. Ao mostrar que o maior impacto recai justamente sobre países de alta renda, nos quais o Índice Sociodemográfico é elevado, o artigo sugere que estilos de vida urbanos, maior exposição a fatores de risco e maior capacidade diagnóstica podem se somar para aumentar o número de casos e sobreviventes em idade laboral, com implicações diretas para produtividade e sistemas previdenciários. Para o Brasil, embora não haja valores numéricos detalhados – o país é analisado apenas dentro do bloco regional da América Latina e Caribe –, o estudo reforça a importância de explorar, em análises nacionais, como padrões de incidência, prevalência, mortalidade e anos de vida ajustados por incapacidade em câncer de próstata, rim, bexiga e testículo se distribuem na população economicamente ativa. Esses achados sustentam a necessidade de políticas coordenadas que integrem prevenção (tabagismo, obesidade, exposições ocupacionais), organização de diagnóstico precoce e estratégias de preservação e retorno ao trabalho para homens em idade produtiva acometidos por esses tumores.

Referência

Chen J, Meng C, et al. Burden of Urological Cancers in the Labour Force from 1990 to 2021 and Projections to 2050. Ann Surg Oncol. Published online April 27, 2025. doi:10.1245/s10434-025-17234-8.

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