
CheckMate 9ER – Análise de modelagem de qualidade de vida e desfechos clínicos com cabozantinibe + nivolumabe no tratamento de primeira linha do carcinoma de células renais avançado
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Introdução
Em junho de 2025 foi publicado na revista ESMO Open, em tradução livre, o artigo “Perfil de qualidade de vida relacionada à saúde e desfechos clínicos em primeira linha no carcinoma de células renais avançado: uma análise de modelagem baseada no estudo CheckMate 9ER”. O trabalho utilizou dados do estudo pivotal CheckMate 9ER para investigar como mudanças precoces na qualidade de vida se relacionam com os desfechos clínicos e se perfis sintomáticos poderiam prever a evolução da doença.
Confira abaixo mais detalhes do estudo:
Objetivo
Avaliar a associação entre mudanças precoces em qualidade de vida e desfechos clínicos, e identificar perfis de pacientes baseados em sintomas com potencial valor prognóstico.
Desenho do estudo
Análise post hoc baseada no estudo randomizado de fase 3 CheckMate 9ER.
Número de pacientes
651 pacientes da população por intenção de tratamento (323 no grupo cabozantinibe + nivolumabe e 328 no grupo sunitinibe).
Período de inclusão
Entre setembro de 2017 e maio de 2019.
Materiais e Métodos
Foram utilizados dados de qualidade de vida autorrelatada por meio do questionário FKSI-19 (Functional Assessment of Cancer Therapy – Kidney Symptom Index). Modelos de Cox investigaram a associação entre deteriorações precoces em sintomas e desfechos clínicos. Análise de classes latentes foi conduzida para identificar subgrupos de pacientes com perfis sintomáticos distintos. A análise foi realizada após um seguimento mediano de 32,9 meses.
Desfechos
Sobrevida global, tempo até progressão, taxa de resposta objetiva, tempo até toxicidade grau 3/4 e descontinuação por toxicidade. Desfechos exploratórios incluíram deterioração em qualidade de vida e análise de subgrupos sintomáticos.
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Pacientes com carcinoma de células renais avançado com componente de células claras, sem tratamento sistêmico prévio.
Resultados
A análise mostrou que deteriorações precoces na semana 13 em dois itens do FKSI-19 — dor óssea e qualidade do sono — se associaram a maior risco de mortalidade (HR 1,45; IC 95%: 1,09–1,93; p=0,010 para dor óssea; HR 1,45; IC 95%: 1,10–1,90; p=0,007 para sono). Por outro lado, a piora de dor esteve associada a menor risco de descontinuação por toxicidade (HR 0,42; IC 95%: 0,22–0,79; p=0,008). Não foi observada associação estatisticamente significante entre piora precoce de sintomas e risco de progressão ou resposta tumoral.
Tempo para descontinuação por toxicidade:
Item do FKSI-19 | HR (IC 95%) | Valor de p |
---|---|---|
Febre | 1,38 (0,93–2,06) | 0,109 |
Dor óssea | 1,45 (1,09–1,93) | 0,010 |
Fraqueza | 0,78 (0,59–1,03) | 0,080 |
Dormir bem | 1,45 (1,10–1,90) | 0,007 |
Diarreia | 0,77 (0,58–1,03) | 0,078 |
Três perfis distintos de pacientes foram identificados com base na análise de classes latentes dos sintomas autorrelatados na semana 13: sintomas limitados (26,4%), sintomas moderados a severos (61,6%) e sintomas severos (12,0%). Pacientes com sintomas limitados foram mais frequentemente tratados com cabozantinibe + nivolumabe (63,4%), apresentaram maior tempo de tratamento (>122 semanas em 37,2%) e menor taxa de progressão (61,6%) em comparação aos demais grupos. A progressão foi mais frequente no grupo com sintomas severos (76,9%). A classe moderada a severa apresentou a menor proporção de progressão (55,1%).
Cabozantinibe + nivolumabe foi associado a menor risco de progressão (HR 0,57; IC 95%: 0,46–0,70; p<0,001), maior chance de resposta tumoral (HR 2,13; IC 95%: 1,64–2,75; p<0,001) e menor risco de morte (HR 0,71; IC 95%: 0,53–0,94; p=0,017) em comparação com sunitinibe, independentemente das alterações precoces na qualidade de vida.
Além disso, foi realizada uma comparação direta dos escores dos itens individuais do FKSI-19 na semana 13 entre os braços. Os pacientes tratados com cabozantinibe + nivolumabe apresentaram menor frequência de sintomas como falta de energia (OR 0,55; p=0,0005), dor (OR 0,70; p=0,0439), fadiga (OR 0,55; p=0,0006), dor óssea (OR 0,57; p=0,0068), fraqueza generalizada (OR 0,54; p=0,0005), náuseas (OR 0,56; p=0,0110) e incômodo com efeitos colaterais do tratamento (OR 0,61; p=0,0041). Também relataram com mais frequência capacidade de trabalhar (OR 0,70; p=0,0312), embora tenham apresentado mais diarreia (OR 1,47; p=0,0498). Esses resultados favorecem o perfil sintomático do braço CaboNivo na maioria dos domínios avaliados.
Conclusão do Trabalho
A combinação de cabozantinibe com nivolumabe demonstrou benefícios clínicos e de qualidade de vida em comparação com sunitinibe. Deteriorações precoces em dor óssea e sono se associaram a pior sobrevida, enquanto perfis sintomáticos puderam distinguir subgrupos com diferentes desfechos. Monitorar sintomas precocemente pode otimizar decisões terapêuticas personalizadas.
Comentário Editorial
Este estudo post hoc do CheckMate 9ER contribui para a compreensão do papel dos sintomas autorrelatados como potenciais preditores de desfechos clínicos em pacientes com carcinoma de células renais avançado. A associação entre piora precoce de dor óssea e sono com aumento no risco de mortalidade levanta a possibilidade de usar parâmetros de qualidade de vida como marcadores prognósticos adicionais na prática clínica. A análise de classes latentes é particularmente relevante ao demonstrar que o perfil sintomático na semana 13 pode estratificar pacientes quanto à evolução clínica e tempo de tratamento. Cabe destacar que esses perfis não se sobrepõem às categorias do escore de risco do IMDC, sugerindo valor complementar dessas métricas.
Entretanto, o estudo apresenta limitações que devem ser consideradas. Trata-se de uma análise post hoc, sujeita a viés de tempo imortal pela escolha da semana 13 como ponto de corte. Além disso, não foram avaliadas as mudanças nos sintomas ao longo de todo o tratamento, o que poderia capturar melhor a dinâmica da qualidade de vida. A ausência de dados sobre terapias subsequentes também limita a interpretação dos desfechos de sobrevida. Mesmo com essas limitações, o estudo reforça a importância de incorporar medidas de qualidade de vida nas decisões terapêuticas e abre caminho para investigações prospectivas que explorem intervenções precoces baseadas em sintomas autorrelatados.
Referência
Cella D, Derosa M, Floden L, et al. Health-related quality-of-life profile and clinical outcomes in first-line advanced renal cell carcinoma: a modeling analysis based on the CheckMate 9ER study. ESMO Open. Published online June 2025. doi:10.1016/j.esmoop.2025.105115
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