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Eficácia e Segurança da Neuromodulação Sacral Combinada com Injeção de Toxina Botulínica A no Tratamento da Retenção Urinária Não Obstrutiva Idiopática

Autores do Artigo: 

Yongkun Z, Wen Z, Zikai L, Chuanyu W, Shuo X, Jianguo W, Qingwei W (do Departamento de Urologia, Primeiro Hospital Afiliado, Universidade de Zhengzhou)

Journal

Continence (Suplemento ICS-EUS 2025 Abu Dhabi Abstracts)

Data da publicação

Agosto 2025

Autor do Resumo

Editor de Seção

  

Introdução

A retenção urinária não obstrutiva idiopática (RUROI), particularmente aquela associada a déficit de relaxamento do esfíncter uretral externo, representa um desafio clínico significativo. Pacientes que falham em responder ao tratamento conservador frequentemente necessitam de intervenções mais avançadas. A toxina botulínica A (BTX-A) tem sido utilizada para induzir o relaxamento do esfíncter uretral, enquanto a neuromodulação sacral (NMS) é uma opção para modular a função vesical e esfincteriana. Este estudo propôs investigar se a combinação dessas duas terapias poderia oferecer um benefício superior em comparação com a BTX-A isoladamente.

Objetivo

O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia e a segurança da neuromodulação sacral combinada com a injeção de toxina botulínica A no esfíncter uretral externo no tratamento da retenção urinária não obstrutiva idiopática (RUROI) com déficit de relaxamento do esfíncter uretral externo.

Desenho do estudo

Estudo de coorte prospectivo que comparou duas abordagens cirúrgicas em pacientes com retenção urinária não obstrutiva idiopática que não responderam ao tratamento conservador.

Número de pacientes

Um total de 68 pacientes foi incluído no estudo.

Período de inclusão

Os dados foram coletados de pacientes atendidos no hospital dos autores entre maio de 2022 e maio de 2024.

Materiais e Métodos

O estudo envolveu 68 pacientes do sexo feminino com retenção urinária não obstrutiva idiopática (RUROI) e déficit de relaxamento do esfíncter uretral externo, que não obtiveram sucesso com tratamentos conservadores. Os pacientes foram divididos em dois grupos com base no procedimento cirúrgico recebido:
  • Grupo BTX: Pacientes submetidos à injeção de toxina botulínica A (BTX-A) no esfíncter uretral externo. A toxina botulínica atua bloqueando a liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares, causando relaxamento muscular.
  • Grupo Combinado: Pacientes submetidos à neuromodulação sacral (NMS) em combinação com a injeção de toxina botulínica A (BTX-A) no esfíncter uretral externo. A NMS é uma terapia que envolve a estimulação elétrica dos nervos sacrais para modular a função da bexiga e do assoalho pélvico.
Todos os pacientes registraram um diário miccional de três dias, pontuações de qualidade de vida (QOL) e volume de urina residual pré-operatoriamente, e 1 mês e 6 meses após a cirurgia. Além disso, exames de videourodinâmica foram registrados no baseline e 1 mês pós-operatório. A ocorrência de eventos adversos pós-operatórios foi monitorada por 6 meses.

Desfechos

Os desfechos primários incluíram frequência miccional, volume residual pós-miccional (PVR), volume miccional, fluxo máximo (QMAX) e pontuações de QOL. Desfechos secundários incluíram a capacidade vesical (BC), capacidade cistométrica máxima (MCC), taxa de eficácia do tratamento e a ocorrência de eventos adversos pós-operatórios.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Inclusão: Pacientes com retenção urinária não obstrutiva idiopática (RUROI) com déficit de relaxamento do esfíncter uretral externo e falha no tratamento conservador.
 
Exclusão: Não se aplica explicitamente, mas a descrição dos critérios de inclusão sugere a exclusão de pacientes com outras etiologias de retenção urinária ou que não falharam ao tratamento conservador.

Resultados

Ao comparar os dados do baseline com 1 mês pós-operatório:
  • Grupo BTX: Houve diminuição da frequência miccional e do PVR, e aumento significativo do volume miccional e do QMAX (P<0,05). Entretanto, não houve melhora significativa em outros indicadores, e não houve diferença entre os dados de 6 meses e os do baseline.
  • Grupo Combinado: A frequência miccional, PVR e as pontuações de QOL diminuíram mais, enquanto o volume miccional, QMAX, BC e MCC aumentaram mais (P<0,05). Todos os indicadores foram significativamente melhorados, exceto a pressão máxima do detrusor durante a micção. A melhora observada a 1 mês foi mantida a 6 meses pós-operatório, com resultados significativamente melhores em comparação com o baseline.
A taxa de eficácia do tratamento no grupo BTX foi de 63,3%, enquanto no grupo combinado foi de 88,9%, sendo a diferença estatisticamente significativa (P<0,05).
Em relação ao refluxo vesicoureteral (RVU):
  • Grupo BTX: Cinco casos de RVU foram observados pré-operatoriamente, com 2 casos melhorando e 3 sem alteração a 1 mês pós-operatório.
  • Grupo Combinado: Seis casos de RVU foram observados pré-operatoriamente, com 3 casos melhorando e 3 desaparecendo a 1 mês pós-operatório.
Eventos adversos pós-operatórios:
  • Grupo BTX: 8 pacientes desenvolveram hematúria macroscópica e 5 desenvolveram infecção do trato urinário.
  • Grupo Combinado: 7 pacientes desenvolveram hematúria macroscópica, 4 desenvolveram infecção do trato urinário e 2 desenvolveram infecções de ferida operatória.

Conclusão do Trabalho

A combinação de neuromodulação sacral com injeção de toxina botulínica A é mais eficaz do que a toxina botulínica A isolada na melhoria dos resultados de curto e longo prazo para a retenção urinária não obstrutiva idiopática.

Comentário Editorial

Este estudo aborda uma condição complexa e desafiadora – a retenção urinária não obstrutiva idiopática com déficit de relaxamento do esfíncter uretral externo – e oferece evidências promissoras para uma abordagem terapêutica combinada. A comparação direta entre a toxina botulínica A (BTX-A) isolada e a combinação de BTX-A com neuromodulação sacral (NMS) é de grande valor, especialmente para pacientes refratários a tratamentos conservadores.

A principal implicação clínica deste trabalho é que a combinação de NMS e BTX-A parece ser uma estratégia superior à BTX-A isolada, resultando em taxas de eficácia significativamente maiores e melhorias mais consistentes nos parâmetros urodinâmicos e de qualidade de vida a curto e médio prazo. Para pacientes que enfrentam retenção urinária crônica e que falharam com terapias de primeira linha, esta abordagem combinada pode oferecer uma nova esperança. É crucial considerar que, embora os eventos adversos tenham sido similares entre os grupos, a NMS envolve um procedimento mais invasivo (implante de eletrodo), que deve ser discutido com o paciente. A melhora observada no refluxo vesicoureteral no grupo combinado também é um achado importante, sugerindo um benefício adicional dessa terapia.

Os resultados encorajadores deste estudo abrem portas para diversas direções de pesquisa:

  • Estudos de Longo Prazo: Embora o estudo tenha avaliado até 6 meses, a retenção urinária é uma condição crônica. Seriam valiosos estudos de acompanhamento a longo prazo para confirmar a durabilidade da eficácia da terapia combinada e entender a necessidade de reintervenções.
  • Análise de Subgrupos: Investigar se certos subgrupos de pacientes respondem melhor à terapia combinada ou se existem preditores específicos de sucesso para cada abordagem (BTX-A isolada versus combinada) poderia otimizar a seleção de pacientes e personalizar o tratamento.
  • Análise Custo-Efetividade: A NMS é um procedimento de custo elevado. Uma análise detalhada da custo-efetividade da terapia combinada em comparação com as terapias isoladas, considerando a melhora da qualidade de vida e a redução de complicações a longo prazo, seria fundamental para guiar as decisões clínicas e de saúde pública.
  • Mecanismos de Ação: Aprofundar a compreensão dos mecanismos pelos quais a NMS e a BTX-A interagem sinergicamente no tratamento da RUROI pode levar ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas ou à otimização das existentes.

Este estudo fornece um dado importante na evolução do tratamento da retenção urinária não obstrutiva idiopática, pavimentando o caminho para abordagens mais eficazes e direcionadas.

Referência

Yongkun Z, Wen Z, Zikai L, Chuanyu W, Shuo X, Jianguo W, Qingwei W. Efficacy and safety of sacral neuromodulation combined with botulinum toxin A injection in the treatment of idiopathic non-obstructive urinary retention. Continence 15S (2025) ICS-EUS 2025 Abu Dhabi Abstracts. doi: 10.1016/j.cont.2025.101935.

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