Viabilidade da Substituição de Implante de Neuromodulação do Nervo Tibial: Uma Série de Casos

Autores do Artigo:

Harry J. Kendall, Martijn A.C. Smits, Frank M.J. Martens, John P.F.A Heesakkers

Journal

Continence

Data da publicação

Outubro 2025

Autor do Resumo

Alessandro Prudente

Editor de Seção

Alessandro Prudente

Introdução

A neuromodulação do nervo tibial é uma estratégia terapêutica estabelecida e eficaz para o manejo da bexiga hiperativa (OAB) e incontinência urinária de urgência (UUI). No entanto, com a evolução tecnológica, surge a questão da longevidade dos dispositivos e a necessidade de procedimentos de revisão. Este artigo aborda a viabilidade e os resultados de substituir implantes em pacientes que necessitaram de revisão cirúrgica, principalmente devido a incompatibilidades com unidades externas de nova geração. O estudo destaca a importância de manter a continuidade do tratamento e os benefícios clínicos obtidos com essa terapia.
Publicado na revista Continence em outubro de 2025, este é um estudo retrospectivo de série de casos. O objetivo foi avaliar a viabilidade e os resultados clínicos da substituição de um implante de neuromodulação do nervo tibial em pacientes previamente tratados. A metodologia envolveu a análise de dados de cinco pacientes submetidos a cirurgia de revisão, com foco nos resultados cirúrgicos e na melhora dos sintomas urinários, demonstrando a segurança e eficácia do procedimento de revisão.

Objetivo

Avaliar a viabilidade e os resultados clínicos da substituição de implantes do sistema de neuromodulação do nervo tibial RENOVA iStim em pacientes que já recebiam tratamento eficaz.

Desenho do estudo

Série de casos retrospectiva.

Número de pacientes

5 pacientes.

Materiais e Métodos

O estudo envolveu pacientes que haviam recebido previamente o sistema RENOVA iStim (BlueWind Medical, agora Revi®), um dispositivo de neuromodulação do nervo tibial sem bateria implantável que é ativado por uma unidade externa recarregável. Este sistema libera impulsos elétricos para o nervo tibial, modulando os sinais neurológicos que influenciam a função da bexiga e do assoalho pélvico. A principal razão para a substituição dos implantes originais foi a incompatibilidade entre o sistema implantado e as novas gerações de unidades externas recarregáveis, o que impedia a continuidade da terapia para os pacientes.
A cirurgia de revisão foi realizada sob anestesia local. O procedimento consistiu na remoção do implante antigo e na inserção do novo dispositivo, utilizando a incisão cirúrgica original. O tempo operatório médio para a substituição foi de 48 minutos, indicando um procedimento relativamente rápido e minimamente invasivo. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética.

Desfechos

Os desfechos primários incluíram a viabilidade do procedimento de substituição do implante (tempo operatório, tipo de anestesia) e a ocorrência de complicações. Os desfechos secundários envolveram a avaliação da manutenção dos benefícios clínicos através da melhora dos sintomas urinários (vazamentos, frequência, urgência) e a Impressão Global de Melhora do Paciente (PGI-I).

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Foram incluídos pacientes que haviam sido tratados com sucesso com o sistema RENOVA iStim para bexiga hiperativa (OAB) e incontinência urinária de urgência (UUI) e que necessitavam da substituição do implante devido à incompatibilidade com as novas unidades externas.

Resultados

Os cinco pacientes incluídos no estudo haviam sido previamente tratados com sucesso com o sistema RENOVA iStim para sintomas de bexiga hiperativa (OAB) e incontinência urinária de urgência (UUI). Após a substituição do implante, todos os pacientes demonstraram melhora contínua ou restauração dos benefícios clínicos iniciais. Observou-se uma redução significativa nos vazamentos urinários, na frequência miccional e na urgência. A avaliação do PGI-I (Impressão Global de Melhora do Paciente) revelou uma média de 3, indicando que os pacientes se sentiram "ligeiramente melhor" após a revisão. O procedimento de substituição foi bem-sucedido nos cinco casos, com um tempo operatório médio de 48 minutos sob anestesia local, confirmando a viabilidade do procedimento. As complicações observadas foram menores, incluindo edema e eritema leve no local da incisão, sem eventos adversos graves.

Conclusão do Trabalho

A substituição de implantes de neuromodulação do nervo tibial do sistema RENOVA iStim é um procedimento viável e seguro, que pode ser realizado sob anestesia local e em tempo operatório curto. Este procedimento permite a continuidade do tratamento e a manutenção dos benefícios clínicos para pacientes com bexiga hiperativa e incontinência urinária de urgência, mesmo em situações de incompatibilidade tecnológica.

Comentário Editorial

Este estudo de série de casos, embora com uma amostra pequena (N=5) e de natureza retrospectiva, oferece insights importantes sobre a manutenção da terapia de neuromodulação do nervo tibial a longo prazo. A capacidade de substituir implantes de forma segura e eficaz, sob anestesia local e com tempo cirúrgico curto, representa um avanço prático significativo. Isso garante que os benefícios clínicos de controle da bexiga hiperativa e da incontinência urinária de urgência possam ser mantidos, evitando a interrupção do tratamento devido a obsolescência ou problemas de compatibilidade do dispositivo. A viabilidade da cirurgia de revisão reforça a neuromodulação tibial como uma opção terapêutica duradoura. Para o futuro, será fundamental que os fabricantes considerem a compatibilidade retroativa e a interoperabilidade entre diferentes gerações de dispositivos, minimizando a necessidade de cirurgias de revisão por incompatibilidade. O design de sistemas de neuromodulação deve focar na longevidade e na facilidade de atualização. Além disso, comparações futuras com outros sistemas, como o eCoin™ (que oferece uma bateria implantável sem necessidade de unidade externa diária), serão importantes para determinar a estratégia ideal de tratamento de longo prazo e as opções de revisão. A experiência deste estudo pode informar o desenvolvimento de futuras plataformas de neuromodulação, visando maior conveniência para o paciente e menor necessidade de intervenções cirúrgicas adicionais.

Referência

Kendall, H. J., Smits, M. A. C., Martens, F. M. J., & Heesakkers, J. P. F. A. (2025). Feasibility of Replacing a Tibial Nerve Neuromodulation Implant. A Case Series. Continence, X(X), 102293. DOI: 10.1016/j.cont.2025.102293