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Diretriz AUA para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa

Autores do Artigo

J. Quentin Clemens, David R. Erickson, Nisha P. Varela, H. Henry Lai

Revista

Journal of Urology

Data da publicação

Julho 2022

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Junho 2025

  

Introdução

Em julho de 2022, foi publicado na revista Journal of Urology o artigo “Diretriz AUA para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa”, diretriz atualizada da American Urological Association (AUA). O documento apresenta recomendações atualizadas para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), uma condição complexa e heterogênea que afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A diretriz propõe uma abordagem terapêutica individualizada e progressiva, enfatizando a importância da decisão compartilhada e da personalização do cuidado.

Objetivo

Fornecer diretrizes baseadas em evidências para o diagnóstico, avaliação e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), com o objetivo de orientar os profissionais de saúde na construção de um plano terapêutico individualizado e progressivo, visando otimizar o controle dos sintomas e a qualidade de vida dos pacientes.

Desenho do estudo

Diretriz de prática clínica desenvolvida pela American Urological Association (AUA), com base em revisão sistemática da literatura e consenso de um painel multidisciplinar de especialistas. A diretriz de 2022 atualiza versões anteriores, incorporando novas evidências e reforçando recomendações para um manejo progressivo e centrado no paciente da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa.

Número de pacientes

Número de estudos incluídos:

170 estudos, incluindo 86 artigos da revisão inicial (1983-2009), 31 artigos da atualização de 2013 e 53 novos estudos da atualização de 2022.

Período de inclusão

Os estudos analisados na diretriz abrangem publicações de 1983 a janeiro de 2021, com revisões sistemáticas realizadas em 2009, atualizadas em 2013 e novamente em 2022.

Materiais e Métodos

A diretriz foi desenvolvida a partir de revisão sistemática da literatura realizada inicialmente em 2009 (MEDLINE 1983-2009), com atualizações em 2013 e em 2022 (MEDLINE de junho de 2013 a janeiro de 2021). Foram incluídos estudos clínicos, revisões sistemáticas e metanálises relevantes sobre o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS) em adultos.

A seleção e análise dos estudos foram conduzidas por um painel multidisciplinar da AUA, que considerou a qualidade da evidência e a força das recomendações segundo metodologia padronizada da associação. As recomendações finais foram elaboradas com base na evidência disponível e no consenso do painel de especialistas.

Desfechos

Desfecho primário:

  • Controle dos sintomas urinários e da dor associados à cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS).

Desfechos secundários:

  • Melhora na qualidade de vida relacionada à saúde.

  • Minimização de eventos adversos relacionados às intervenções terapêuticas.

  • Definição de práticas terapêuticas recomendadas e de práticas que devem ser evitadas.

  • Orientação para a construção de um plano terapêutico individualizado e progressivo.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Critérios de inclusão:

  • Estudos clínicos, revisões sistemáticas e metanálises relevantes sobre o diagnóstico, avaliação e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS) em adultos.

  • Estudos que abordassem tanto intervenções comportamentais quanto farmacológicas, procedimentos minimamente invasivos, terapias invasivas e estratégias diagnósticas.

Critérios de exclusão:

  • Estudos de baixa qualidade metodológica.

  • Estudos não diretamente relacionados à IC/BPS.

  • Estudos focados em populações pediátricas.

  • Publicações que não apresentassem resultados clínicos aplicáveis à prática.

Resultados

Categoria de tratamento Intervenções recomendadas Observações
Terapias comportamentais Educação do paciente, modificação de hábitos, fisioterapia do assoalho pélvico, manejo do estresse Primeira abordagem recomendada; baixo risco e boa efetividade
Terapias farmacológicas orais Amitriptilina, cimetidina, hidroxizina, pentosano polissulfato sódico (PPS) PPS com ressalva devido ao risco de toxicidade ocular
Terapias intravesicais Dimetilsulfóxido (DMSO), heparina, lidocaína (isoladamente ou em combinação) Indicadas em pacientes com falha de medidas iniciais
Procedimentos Hidrodistensão de baixa pressão; fulguração de lesões de Hunner; injeção intravesical de triamcinolona; toxina botulínica A; neuromodulação sacral ou pudenda Devem ser individualizados conforme sintomas e resposta prévia
Cirurgias maiores Cistectomia parcial ou total, cistoplastia Reservadas para casos refratários com sintomas centrais na bexiga
Práticas não recomendadas Antibióticos prolongados, corticosteroides sistêmicos, BCG intravesical, hidrodistensão de alta pressão ou duração prolongada Não indicados devido à falta de benefício e potencial de dano

A diretriz propõe uma abordagem individualizada e progressiva para o manejo da IC/BPS, eliminando a antiga estrutura de tratamento em “linhas”. A escolha das intervenções deve ser feita com base nas características clínicas do paciente, resposta a tratamentos prévios e preferências individuais.

A decisão terapêutica deve ser compartilhada com o paciente, com reavaliação contínua da resposta clínica. O tratamento começa com intervenções comportamentais, podendo evoluir para medicações orais, instilações vesicais, procedimentos minimamente invasivos e, em casos refratários, cirurgias maiores.

A diretriz destaca também intervenções que não devem ser utilizadas, por apresentarem riscos superiores aos benefícios documentados.

Conclusão do Trabalho

A diretriz da American Urological Association (AUA) sobre o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa propõe uma abordagem centrada no paciente, baseada em evidências atualizadas e consenso de especialistas. O tratamento deve ser individualizado e progressivo, com ênfase em terapias comportamentais como primeira etapa, seguido por intervenções farmacológicas, procedimentos minimamente invasivos e, em casos refratários, cirurgias maiores.

A decisão terapêutica deve ser compartilhada entre o profissional de saúde e o paciente, com revisão contínua da resposta clínica e foco na qualidade de vida. A diretriz também reforça práticas a serem evitadas, promovendo um cuidado mais seguro e eficaz para pacientes com IC/BPS.

Comentário Editorial

Esta atualização da diretriz da AUA oferece um importante avanço no manejo da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), ao adotar uma abordagem terapêutica mais flexível e centrada no paciente. A eliminação da hierarquia rígida de tratamentos permite maior personalização e adequação das intervenções às necessidades e respostas de cada indivíduo.

Um dos pontos fortes da diretriz é a ênfase na educação do paciente e no manejo multimodal, além da incorporação de novas evidências sobre riscos, como a toxicidade ocular associada ao pentosano polissulfato. O documento também fornece diretrizes claras sobre práticas que devem ser evitadas, promovendo maior segurança no cuidado.

Entre as limitações, destaca-se a persistência de lacunas no conhecimento sobre a fisiopatologia da IC/BPS e a limitada qualidade de evidência para algumas intervenções. Ainda assim, a diretriz fornece um referencial valioso para a prática clínica e contribui para a evolução de um cuidado mais individualizado e baseado em evidências nesta condição desafiadora.

Referência

Clemens JQ, Erickson DR, Varela NP, Lai HH. Diagnosis and Treatment of Interstitial Cystitis/Bladder Pain Syndrome. J Urol. 2022;208(1):34-42. doi:10.1097/JU.0000000000002756.

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