
Diretriz AUA para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa
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Introdução
Em julho de 2022, foi publicado na revista Journal of Urology o artigo “Diretriz AUA para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa”, diretriz atualizada da American Urological Association (AUA). O documento apresenta recomendações atualizadas para o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), uma condição complexa e heterogênea que afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes. A diretriz propõe uma abordagem terapêutica individualizada e progressiva, enfatizando a importância da decisão compartilhada e da personalização do cuidado.
Objetivo
Fornecer diretrizes baseadas em evidências para o diagnóstico, avaliação e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), com o objetivo de orientar os profissionais de saúde na construção de um plano terapêutico individualizado e progressivo, visando otimizar o controle dos sintomas e a qualidade de vida dos pacientes.
Desenho do estudo
Diretriz de prática clínica desenvolvida pela American Urological Association (AUA), com base em revisão sistemática da literatura e consenso de um painel multidisciplinar de especialistas. A diretriz de 2022 atualiza versões anteriores, incorporando novas evidências e reforçando recomendações para um manejo progressivo e centrado no paciente da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa.
Número de pacientes
Número de estudos incluídos:
170 estudos, incluindo 86 artigos da revisão inicial (1983-2009), 31 artigos da atualização de 2013 e 53 novos estudos da atualização de 2022.
Período de inclusão
Os estudos analisados na diretriz abrangem publicações de 1983 a janeiro de 2021, com revisões sistemáticas realizadas em 2009, atualizadas em 2013 e novamente em 2022.
Materiais e Métodos
A diretriz foi desenvolvida a partir de revisão sistemática da literatura realizada inicialmente em 2009 (MEDLINE 1983-2009), com atualizações em 2013 e em 2022 (MEDLINE de junho de 2013 a janeiro de 2021). Foram incluídos estudos clínicos, revisões sistemáticas e metanálises relevantes sobre o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS) em adultos.
A seleção e análise dos estudos foram conduzidas por um painel multidisciplinar da AUA, que considerou a qualidade da evidência e a força das recomendações segundo metodologia padronizada da associação. As recomendações finais foram elaboradas com base na evidência disponível e no consenso do painel de especialistas.
Desfechos
Desfecho primário:
-
Controle dos sintomas urinários e da dor associados à cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS).
Desfechos secundários:
-
Melhora na qualidade de vida relacionada à saúde.
-
Minimização de eventos adversos relacionados às intervenções terapêuticas.
-
Definição de práticas terapêuticas recomendadas e de práticas que devem ser evitadas.
-
Orientação para a construção de um plano terapêutico individualizado e progressivo.
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Critérios de inclusão:
-
Estudos clínicos, revisões sistemáticas e metanálises relevantes sobre o diagnóstico, avaliação e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS) em adultos.
-
Estudos que abordassem tanto intervenções comportamentais quanto farmacológicas, procedimentos minimamente invasivos, terapias invasivas e estratégias diagnósticas.
Critérios de exclusão:
-
Estudos de baixa qualidade metodológica.
-
Estudos não diretamente relacionados à IC/BPS.
-
Estudos focados em populações pediátricas.
-
Publicações que não apresentassem resultados clínicos aplicáveis à prática.
Resultados
Categoria de tratamento | Intervenções recomendadas | Observações |
---|---|---|
Terapias comportamentais | Educação do paciente, modificação de hábitos, fisioterapia do assoalho pélvico, manejo do estresse | Primeira abordagem recomendada; baixo risco e boa efetividade |
Terapias farmacológicas orais | Amitriptilina, cimetidina, hidroxizina, pentosano polissulfato sódico (PPS) | PPS com ressalva devido ao risco de toxicidade ocular |
Terapias intravesicais | Dimetilsulfóxido (DMSO), heparina, lidocaína (isoladamente ou em combinação) | Indicadas em pacientes com falha de medidas iniciais |
Procedimentos | Hidrodistensão de baixa pressão; fulguração de lesões de Hunner; injeção intravesical de triamcinolona; toxina botulínica A; neuromodulação sacral ou pudenda | Devem ser individualizados conforme sintomas e resposta prévia |
Cirurgias maiores | Cistectomia parcial ou total, cistoplastia | Reservadas para casos refratários com sintomas centrais na bexiga |
Práticas não recomendadas | Antibióticos prolongados, corticosteroides sistêmicos, BCG intravesical, hidrodistensão de alta pressão ou duração prolongada | Não indicados devido à falta de benefício e potencial de dano |
A diretriz propõe uma abordagem individualizada e progressiva para o manejo da IC/BPS, eliminando a antiga estrutura de tratamento em “linhas”. A escolha das intervenções deve ser feita com base nas características clínicas do paciente, resposta a tratamentos prévios e preferências individuais.
A decisão terapêutica deve ser compartilhada com o paciente, com reavaliação contínua da resposta clínica. O tratamento começa com intervenções comportamentais, podendo evoluir para medicações orais, instilações vesicais, procedimentos minimamente invasivos e, em casos refratários, cirurgias maiores.
A diretriz destaca também intervenções que não devem ser utilizadas, por apresentarem riscos superiores aos benefícios documentados.
Conclusão do Trabalho
A diretriz da American Urological Association (AUA) sobre o diagnóstico e tratamento da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa propõe uma abordagem centrada no paciente, baseada em evidências atualizadas e consenso de especialistas. O tratamento deve ser individualizado e progressivo, com ênfase em terapias comportamentais como primeira etapa, seguido por intervenções farmacológicas, procedimentos minimamente invasivos e, em casos refratários, cirurgias maiores.
A decisão terapêutica deve ser compartilhada entre o profissional de saúde e o paciente, com revisão contínua da resposta clínica e foco na qualidade de vida. A diretriz também reforça práticas a serem evitadas, promovendo um cuidado mais seguro e eficaz para pacientes com IC/BPS.
Comentário Editorial
Esta atualização da diretriz da AUA oferece um importante avanço no manejo da cistite intersticial/síndrome da bexiga dolorosa (IC/BPS), ao adotar uma abordagem terapêutica mais flexível e centrada no paciente. A eliminação da hierarquia rígida de tratamentos permite maior personalização e adequação das intervenções às necessidades e respostas de cada indivíduo.
Um dos pontos fortes da diretriz é a ênfase na educação do paciente e no manejo multimodal, além da incorporação de novas evidências sobre riscos, como a toxicidade ocular associada ao pentosano polissulfato. O documento também fornece diretrizes claras sobre práticas que devem ser evitadas, promovendo maior segurança no cuidado.
Entre as limitações, destaca-se a persistência de lacunas no conhecimento sobre a fisiopatologia da IC/BPS e a limitada qualidade de evidência para algumas intervenções. Ainda assim, a diretriz fornece um referencial valioso para a prática clínica e contribui para a evolução de um cuidado mais individualizado e baseado em evidências nesta condição desafiadora.
Referência
Clemens JQ, Erickson DR, Varela NP, Lai HH. Diagnosis and Treatment of Interstitial Cystitis/Bladder Pain Syndrome. J Urol. 2022;208(1):34-42. doi:10.1097/JU.0000000000002756.
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