
Ensaio de Fase 2 de Terapia Neoadjuvante Adaptada para o Risco para Câncer de Bexiga Músculo-Invasivo (RETAIN 1)
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Introdução
Em Dezembro de 2024, foi publicado na revista Journal of Clinical Oncology o estudo "Ensaio de fase II de terapia adaptada ao risco após quimioterapia neoadjuvante para câncer de bexiga invasivo muscular (RETAIN 1)". A hipótese do estudo era avaliar se a combinação de biomarcadores e estadiamento clínico poderia identificar pacientes para a estratégia de preservação de bexiga após quimioterapia neoadjuvante.
Confira abaixo mais detalhes do estudo:
Objetivo
Avaliar se a combinação de biomarcadores e estadiamento clínico poderia identificar pacientes para a estratégia de preservação de bexiga após quimioterapia neoadjuvante.
Desenho do estudo
Estudo de fase 2, de não-inferioridade, braço único. Pacientes com cT2-T3 N0 M0 eram tratados com quimioterapia neoadjuvante com metotrexato, vimblastina, doxorubicina e cisplatina dose densa. Amostras da ressecção transuretral do tumor de bexiga (RTU) eram sequenciadas para avaliar a presença de mutações nos genes ATM, ERCC2, FANCC e RB1. Pacientes com pelo menos 1 mutação nesses genes e estadiamento pós-quimioterapia cT0 eram então submetidos a protocolo de vigilância ativa com intuito de preservação da bexiga. A proposta de rejeição da hipótese nula e declarar a abordagem adaptada ao risco não inferior era se o limite inferior de um intervalo de confiança unilateral exato de 95% para a proporção de resposta fosse maior do que o limite de não inferioridade de 64%.
Número de pacientes
Um total de 102 pacientes assinaram o termo de consentimento, 78 iniciaram quimioterapia com MVAC dose densa e 70 foram incluídos na avaliação do desfecho primário (considerada população por intenção de tratar). Desses, 33 (47%) tinham mutação nos genes de interesse e 25 (36%) foram incluídos no protocolo de vigilância ativa para preservação da bexiga.
Período de inclusão
Outubro de 2017 a Maio de 2020
Materiais e Métodos
Sequenciamento gênico por NGS: Amostras de RTU prévia ao tratamento eram quenciadas para determinar se havia alterações nos genes ATM, RB1, FANCC ou ERCC2.
Tratamento: os pacientes eram tratados com quimioterapia com MVAC dose densa por 3 ciclos (1 ciclo a cada 2 semanas).
Avaliação de resposta ao tratamento: Nova RTU, CT Tórax, Abdomen e Pelve, Citologia oncótica urinária
Grupos de tratamento direcionado ao risco:
1) Ausência de doença residual (T0) e presença de mutação ► Vigilância ativa
2) cTa ou cTis ou cT1 ou citologia positiva ou cT0 sem mutação ► Tratamento intravesical ou Quimiorradioterapia ou Cistectomia (escolha do médico e paciente)
3) cT2 ► Quimiorradioterapia ou Cistectomia (escolha do médico e paciente)
4) ≥T3 ► Cistectomia
Desfechos
Desfecho primário: sobrevida livre de metástases em 2 anos para a população por intenção de tratar
Desfechos secundários: taxa de recorrência de carcinoma urotelial na coorte vigilância ativa, sobrevida global, toxicidade durante quimioterapia neoadjuvante e proporção de pacientes que necessitam de cistectomia, imediatamente após quimioterapia ou como salvamento após vigilância ou quimiorradioterapia
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Critérios de inclusão: ter 18 anos ou mais, carcinoma urotelial documentado incluindo variantes (exceto componente de pequenas células), ECOG performance status 0 ou 1, Estadiamento pela AJCC II-III, aptos para receberem MVAC dose densa, Clearance de creatinina ≥ 50 mL/min, função medular preservada.
Critérios de exclusão: radioterapia prévia na pelve (incluindo para câncer de próstata), quimioterapia prévia para carcinoma urotelial ou outra neoplasia no último ano, hidronefrose, linfonodos ≥15 mm no menor eixo (a menos que biópsia negativa).
Resultados
Após um seguimento mediano de 40,4 meses, a sobrevida livre de metástases em 2 anos para toda a coorte foi de 72,9% (limite inferior do intervalo de confiança = 62,8).
MFS em 2 anos (%) | IC 95% | |
Vigilância ativa (n=25) | 76,0% | 54,2-88,4 |
Demais pacientes | 71,1% | 55,5-82,1 |
No grupo vigilância ativa, 17 (68%) dos pacientes tiveram alguma recorrência e 12 (48%) estavam livre de metástases e com a bexiga intacta.
A sobrevida global foi de 88,0% (IC 95% 67,3-96,0) no grupo vigilância ativa e 82,2% (IC 95% 67,6-90,7) nos demais pacientes.
Comentário Editorial
O tratamento padrão do carcinoma urotelial músculo invasivo continua sendo a cistectomia radical acompanhada de tratamento sistêmico perioperatório para pacientes elegíveis. Esse pequeno estudo de fase 2, apesar de negativo para o seu desfecho primário, sugere como um gerador de hipóteses que pelo menos uma parcela dos pacientes submetidos a quimioterapia neoadjuvante possa ser poupado de cistectomia radical. Tendo em vista a alta morbidade e redução da qualidade de vida de pacientes submetidos a cistectomia radical, investigar estratégias que visam à preservação da bexiga é fundamental. Novos estudos explorando a adição de imunoterapia à quimioterapia para tentativa de preservação da bexiga estão atualmente em andamento (RETAIN II, NCT04506554; Alliance A031701, NCT03609216).
Referência
Geynisman et al. J Clin Oncol 2024 Dec 16:JCO2401214
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