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Série Clássicos: Sunitinibe versus Interferon Alfa no Câncer Renal Metastático

Autores do Artigo: 

Motzer et al.

Revista

New England Journal of Medicine

Data da publicação

Janeiro 2007

Editor

Publicação do Resumo

Fevereiro 2025

  

Introdução

Em Janeiro de 2007, foi publicado o estudo - em tradução livre - "Sunitinibe versus Interferon Alfa em Carcinoma de Células Renais Metastático" na revista New England Journal of Medicine. Trata-se do primeiro estudo demonstrando o aumento de sobrevida global em pacientes com câncer renal metastático utilizando uma terapia sistêmica. Nesse estudo de fase 3 randomizado e multicêntrico, 750 pacientes com câncer renal metastático virgens de tratamento foram randomizados para receber interferon alfa ou sunitinibe. O estudo demonstrou que o uso de sunitinibe aumentou a sobrevida livre de progressão (redução do risco de progredir ou morrer durante o estudo de 58%) e aumentou a sobrevida global (redução do risco de morrer durante o estudo de 18%), sedimentando a terapia sistêmica com inibidores da tirosina quinase do receptor do fator de crescimento do endotélio vascular (TKI anti-VEGFR) para pacientes com câncer renal avançado.

Confira mais detalhes do estudo abaixo:

Objetivo

Comparar a eficácia do sunitinibe em relação ao interferon-alfa em pacientes com câncer renal metastático.

Desenho do estudo

Estudo de fase 3, multicêntrico, aberto.

Número de pacientes

750 pacientes foram incluídos e randomizados em 101 países diferentes.

Período de inclusão

Agosto de 2004 a Outubro de 2005.

Materiais e Métodos

Os pacientes foram alocados em 2 grupos de tratamento de acordo com estratificação por níveis basais de lactato desidrogenase (>1,5 vs. ≥1,5 valor superior da normalidade), ECOG performance status (0 vs. 1), nefrectomia prévia (sim vs. não).

Grupos de tratamento:

- Sunitinibe 50 mg ao dia via oral (tomado com ou sem alimentação) diariamente por 4 semanas e com pausa por 2 semanas, a cada 6 semanas (n=375)

- Inferferon alfa subcutâneo 3 vezs por semana - 3 MU por dose na primeira semana, 6 MU por dose na segunda semana e 9 MU por dose após (n=375)

Desfechos

Desfecho primário: sobrevida livre de progressão

Desfechos secundários: sobrevida global, taxa de resposta, segurança

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Pacientes acima de 18 anos, com diagnóstico de câncer renal metastático com componente de células claras, previamente não tratados, ECOG 0 ou 1, função hematológica, hepática, renal e cardíaca normais. Pacientes com metástases cerebrais eram excluídos, assim como aqueles com hipertensão não controlada.

Resultados

A mediana de idade foi de 62 e 59 anos, sendo a população constituída por uma maioria de homens (71/72%). Grande parte dos pacientes (91/89%) haviam sido previamente submetidos à nefrectomia citorredutora. Foram pouco representados pacientes com estratificação de risco pelos critérios do MSKCC pobre (6/7%). 

O sunitinibe teve maior taxa de resposta objetiva em relação ao interferon-alfa, conforme avaliado por avaliadores centrais que não conheciam a alocação de tratamento (31% vs. 6%).

Desfecho Sunitinibe Interferon-alfa
Resposta objetiva (%)    
     Resposta parcial 44 11
     Resposta completa 3 1
Sobrevida livre de progressão (meses)    
     Mediana 11 5
     95%, IC 11 a 13 4 a 6

A sobrevida livre de progressão foi maior no grupo sunitinibe (HR 0,42, IC 95% 0,32-0,54), com mediana de 11 versus 5 meses. A qualidade de vida avaliada pelos instrumentos FACT-P e FKSI foi maior no grupo sunitinibe.

 A primeira publicação de 2007 não trouxe dados conclusivos de sobrevida global devido ao baixo número de eventos observados. Entretanto, uma publicação de 2009 (Motzer et al. J Clin Oncol. 2009 Jun 1;27(22):3584–3590) demonstrou ganho de sobrevida global com o uso de sunitinibe (HR 0,82, IC 95% 0,67-1,00).

Pacientes no grupo sunitinibe tiveram mais eventos adversos graus 3 e 4 relacionados com o tratamento (12% vs. 7%), com maior incidiência de diarreia (5% vs. 0), vômitos (4% vs. 1%), hipertensão (8% vs. 1%), síndrome mão-pé (5% vs. 0). Leucopenia, neutropenia e trombocitopenia também foram mais comuns com o sunitinibe. O uso de interferon-alfa foi mais associado a eventos adversos como pirexia, calafrios, mialgia e sintomas flu-like. 

Comentário Editorial

Esse estudo foi o primeiro trial de fase 3 a demonstrar ganho de sobrevida global em pacientes com câncer renal avançado e inaugurou a era dos inibidores de tirosina-quinase anti-receptor do fator de crescimento de endotélio vascular (TKI anti-VEGFR). Antes disso, os pacientes eram tratados exclusivamente com citocinas como interleucina-2, caso muito hígidos e sem comorbidades, ou interferon-alfa. Posteriormente, muitos outros TKI anti-VEGFR demonstraram atividade e melhora de desfechos oncológicos no câncer renal avançado, como pazopanibe, axitinibe, cabozantinibe, tivozanibe, entre outros. Mais recentemente, o cenário de tratamento do câncer renal foi completamente modificado com a adoção das imunoterapias anti-PD-(L)-1 e anti-CTLA4, assim como combinação de imunoterapia com TKI anti-VEGFR. 

Referência

Motzer et al.  Sunitinib versus Interferon Alfa in Metastatic Renal-Cell Carcinoma. Engl J Med 2007;356:115-124

 

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