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Série Clássicos: Quimioterapia Neoadjuvante Mais Cistectomia é Superior à Cistectomia Isolada para Câncer de Bexiga Músculo Invasivo (SWOG 8710)

Autores do Artigo

Grossman et al.

Revista

New England Journal of Medicine

Data da publicação

Agosto 2003

Editor

Publicação do Resumo

Fevereiro 2025

  

Introdução

O estudo - em tradução livre - "Quimioterapia neoadjuvante mais cistectomia comparada com cistectomia isolada para câncer de bexiga localmente avançado" foi publicado na revista New England Journal of Medicine em Agosto de 2003 e constitui um dos artigos clássicos da uro-oncologia. Nesse trabalho, os pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo foram randomizados para receberem quimioterapia neoadjuvante, ou seja, antes da cirurgia, seguida de cistectomia radical ou apenas cistectomia radical. O tratamento de quimioterapia foi associado a ganho de sobrevida global (mediana: 46 meses versus 77 meses, um ganho mediano de 31 meses) após um seguimento de mais de 8 anos. Esse estudo iniciado em 1987 e publicado em 2003 estabeleceu o benefício da quimioterapia neoadjuvante para pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo.

Confira mais detalhes do estudo abaixo:

Objetivo

Avaliar a capacidade da quimioterapia neoadjuvante de melhorar o desfecho de pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo.

Desenho do estudo

Estudo de fase 3, multicêntrico (126 centros afiliados ao SWOG e CALGB), randomizado, aberto.

Número de pacientes

317 pacientes foram incluídos, sendo 10 considerados inelegíveis. Portanto, 154 pacientes foram designados para receberem cirurgia isolada e 153 para receberem quimioterapia seguida de cirurgia.

Período de inclusão

Agosto de 1987 a Julho de 1998.

Materiais e Métodos

Os pacientes foram randomizados para dois grupos de tratamento:

1) Quimioterapia com MVAC seguida de cistectomia radical com linfadenectomia pélvica bilateral

2) Cistectomia radical isolada com linfadenectomia pélvica bilateral

A estratificação era realizada por idade (menor que 65 anos vs. 65 anos ou mais) e estágio (T2 vs. T3 ou T4a)

* MVAC: metotrexato 30 mg/m2 D1, D15, D22, vimblastina 3 mg/m2 D2, D15, D22, doxorrubicina 30 mg/m2 D2 e cisplatina 70 mg/m2 D2) a cada 28 dias por 3 ciclos.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Critérios de inclusão: carcinoma de células transicionais da bexiga, T2N0M0 a T4aN0M0, candidato a cistectomia radical, performance status 0 ou 1

Critérios de exclusão: ter realizado radioterapia pélvica previamente,

Resultados

A idade mediana foi de 63 anos (foram incluídos pacientes de 39 a 84 anos). A cistectomia radical planejada foi realizada em 82% dos pacientes do grupo quimioterapia e 81% do grupo cistectomia isolada. Três pacientes no grupo quimioterapia declinaram o tratamento sistêmico e foram direto para cirurgia e 87% dos casos receberam pelo menos 1 ciclo completo de MVAC. No grupo quimioterapia, apesar de 33% dos casos terem desenvolvido neutropenia severa, não houve mortes atribuídas ao tratamento. Após uma mediana de seguimento de cerca de 8 anos, 90 mortes ocorreram no grupo quimioterapia e 100 mortes ocorreram no grupo cistectomia isolada. 

Na análise por intenção de tratar, a sobrevida mediana foi de 46 meses no grupo controle de cistectomia isolada versus 77 meses no grupo que recebeu a quimioterapia neoadajuvante. Em cinco anos, 57% dos pacientes estavam vivos no grupo quimioterapia e 43% estavam vivos no grupo cirurgia isolada.

Não houve aumento de complicações pós-operatórias com o uso de quimioterapia prévia à cirurgia. Dos casos tratados com MVAC resposta patológica ocorreu em 38% versus 15% no grupo tratado com cirurgia isoladamente. Em 5 anos, 85% dos pacientes com estadio patológico pT0 estavam vivos. 

A presença de doença residual foi associado a pior sobrevida global, conforme apresentado abaixo:

Comentário Editorial

Esse estudo clássico da uro-oncologia estabeleceu as bases para compreendermos que a quimioterapia neoadjuvante (tratamento sistêmico realizado antes da cirurgia) está associada a maior sobrevida global em pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo. Atualmente, uma série de outras estratégias perioperatórias foram investigadas e demonstraram benefício, como a imunoterapia no cenário adjuvante e a adição de imunoterapia ao tratamento perioperatório. Esse estudo também lançou as bases para o entendimento de que a presença de doença residual, particularmente doença ypT2 ou maior associa-se a um pior prognóstico, cabendo para esses casos ainda mais discussão sobre tratamentos complementares como forma de reduzir recorrência de doença e aumentar sobrevida do paciente.

Referência

N Engl J Med 2003;349:859-866

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