
Desfechos oncológicos da linfadenectomia retroperitoneal após quimioterapia em tumores germinativos não-seminomatosos metastáticos
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Introdução
Em Março de 2025 foi publicado na revista Annals of Oncology o estudo - em tradução livre - “Resultados oncológicos da linfadenectomia retroperitoneal após quimioterapia de primeira linha para tumores de células germinativas não seminomatosos metastáticos”. Os resultados do estudo atual sugerem que, não apenas o tamanho da lesão residual após a quimioterapia deve ser levado em consideração na definição sobre a necessidade da linfadenectomia retroperitoneal. A histologia do tumor inicialmente apresentada através da orquiectomia radical parece predizer com mais acurácia o risco de teratoma ou doença viável residual.
Consulte abaixo a descrição mais detalhada do trabalho:
Objetivo
Avaliar se outros critérios, além do tamanho da massa residual, são fatores preditores da histologia residual presente na linfadenectomia retroperitoneal.
Desenho do estudo
Análise retrospectiva do banco de dados do Memorial Sloan Kettering Cancer Center.
Número de pacientes
1027 pacientes.
Período de inclusão
Janeiro de 2000 a Janeiro de 2023.
Materiais e Métodos
Os parâmetros analisados incluíram o tamanho da lesão residual pós-quimioterapia, patologia encontrada na linfadenectomia retroperitoneal, complicações pós-operatórias, sobrevida global em 10 anos, sobrevida livre de recorrência em 10 anos, tempo para recorrência, local de recorrência. O seguimento mediano foi de 5,2 anos.
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
- Pacientes com tumor de células germinativas não-seminomatosos de testículo submetidos a linfadenectomia retroperitoneal após quimioterapia
- Os pacientes eram excluídos da análise se apresentassem seminoma puro, recorrência tardia (após 2 anos da quimioterapia), ou estágio clínico IS
Resultados
A população mediana foi de 29 anos. A maior parte dos pacientes tinham risco favorável pelo IGCCCG. A linfadenectomia retroperitoneal foi realizada de forma bilateral em 74% dos casos e o tamanho mediano da massa residual foi de 1,7 cm.
No anatomopatológico da linfadenectomia retroperitoneal, foi encontrado teratoma em 45% dos casos, tumor germinativo viável em 4% dos casos e transformação somática do teratoma em 1% dos casos. A tabela abaixo resume os achados de acordo com o tamanho da massa residual, evidenciando que mesmo em casos com menos de 1 cm de massa residual pode ser encontrado teratoma em 22% e doença viável em 2%.
Massa residual | TCG viável | Teratoma | Necrose/ fibrose | SLR 10 anos | SG 10 anos |
---|---|---|---|---|---|
< 1 cm |
2% | 22% | 76% | 99% | 98% |
≥ 1 cm a < 2 cm |
2% | 44% | 54% | 97% | 97% |
≥ 2 cm a < 5 cm |
6,4% | 55% | 38,6% | 95% | 92% |
≥ 5 cm |
6% | 64% | 30% | 92% | 87% |
Figura 1. Relação entre tamanho da massa residual e o risco de tumor viável e teratoma na LNRP
Figura 2. Relação entre tamanho da massa residual e o risco de tumor viável e teratoma na LNRP
A presença de tumor do saco vitelínico (HR 1,86) e teratoma no espécime de orquiectomia (HR 3,09) foram cada um independentemente associados à descoberta de teratoma ou tumor germinativo viável no anatomopatológico da linfadenectomia retroperitoneal.
Conclusão do Trabalho
- Na análise multivariada, a presença de tumor de saco vitelino (OR 1,86) e teratoma (OR 3,09) na orquiectomia estavam associadas a um maior risco de teratoma ou TCG viável na LNRP, independente do tamanho da massa residual
- Na análise não ajustada, a presença de seminoma na orquiectomia estava associada a um menor risco de teratoma ou TCG viável na LNRP em comparação aos pacientes sem seminoma na orquiectomia
- Na análise não ajustada, a presença de coriocarcinoma na orquiectomia estava associada a um maior risco de teratoma ou TCG viável na LNRP em comparação aos pacientes sem coriocarcinoma na orquiectomia
- O risco de recorrência após a LNRP foi associado ao tamanho da massa residual e à presença de teratoma e/ou TCG viável na massa residual
Comentário Editorial
Os dados publicados trazem informações relevantes a respeito do manejo dos pacientes com tumor de células germinativas não-seminomatoso com doença residual após quimioterapia. Além do tamanho da massa residual, previamente contemplada, a histologia inicial pode ter impacto na decisão terapêutica. Neste trabalho, 2% e 22% dos pacientes com doença residual menor que 1 cm apresentavam tumor germinativo viável e teratoma na linfadenectomia retroperitoneal, respectivamente. Ao fazer uma comparação com dados históricos de pacientes doença residual menor que 1 cm submetidos a vigilância, o autor descreve que a linfadenectomia retroperitoneal parece reduzir o risco de recorrência e mortalidade câncer-específica. Uma vez que não parece haver diferença em termos de sobrevida global, infere-se que realizar a linfadenectomia retroperitoneal na recorrência de doença (resgate) é uma estratégia segura.
Levando em consideração a morbi-mortalidade relacionada ao procedimento, cabe destacar que trata-se de uma doença incidente em pacientes jovens, sexualmente ativos, com longevidade. No trabalho atual, 94% dos procedimentos foram realizados por um único cirurgião, com expertise na linfadenectomia retroperitoneal. Apenas 4,3% dos pacientes apresentaram complicações pós-operatórias Clavien-Dindo ≥ 3, e, 17%, ejaculação retrógrada. Extrapolando para dados de vida real, sabemos que, por se tratar de uma doença rara, o risco de morbidade cirúrgica tende a ser maior (a exemplo dos resultados do estudo SWENOTECA, com 36% de ejaculação retrógrada na linfadenectomia retroperitoneal bilateral).
Em resumo, deve-se incorporar a histologia, além do tamanho da massa residual, na decisão do manejo dos pacientes com tumor germinativo não-seminomatoso pós-quimioterapia. A despeito de uma parcela destes apresentar teratoma na doença residual, é incerto o benefício clínico da ressecção cirúrgica a longo prazo, uma vez que não há diferença em tsobrevida global em relação ao resgate na recorrência. Em se tratando de uma população jovem, longeva e sexualmente ativa, devemos levar em consideração a morbidade associada ao procedimento cirúrgico, em um cenário que possivelmente a grande maioria dos paciente estaria curada, e que a linfadenectomia pode significar supertratamento.
Aguardamos biomarcadores que possam apoiar de maneira mais assertiva a decisão da abordagem cirúrgica na massa residual. A detecção de microRNA circulante (miR-371 e miR-275) não foi preditor da presença de teratoma, porém, um novo biomarcador (DNA tumoral circulante para RASSF1A hipermetilado) está em avaliação.
Referência
Matulewicz RS, Baky F, Liso N, et al. Oncologic outcomes of retroperitoneal lymph node dissection following first-line chemotherapy for metastatic non-seminomatous germ-cell tumors. Ann Oncol. Published online March 10, 2025. doi:10.1016/j.annonc.2025.03.002
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