

Dados de Sobrevida Global do Pembrolizumabe Adjuvante no Carcinoma de Células Renais (KEYNOTE-564)
Autores do Artigo
Revista
Data da publicação
Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo
Introdução
Em Abril de 2024 foi publicado no The New England Journal of Medicine o estudo - em tradução livre - Sobrevida global com pembrolizumabe adjuvante no câncer de células renais", uma atualização do estudo KEYNOTE-564. Os resultados previamente demonstrados de ganho em sobrevida livre de progressão levaram à aprovação do pembrolizumabe adjuvante no câncer de rim pelo FDA e ANVISA em 2021. Este foi o primeiro ensaio clínico de fase 3 randomizado a demonstrar ganho de sobrevida global da aduvância no carcinoma renal de células claras.
Consulte abaixo a descrição mais detalhada do trabalho:
Objetivo
Avaliar o benefício do pembrolizumabe adjuvante em pacientes com carcinoma renal de células claras localizado de intermediário a alto risco para recorrência ou metastáticos sem evidência de doença.
Desenho do estudo
Estudo de fase III, randomizado, global, duplo-cego, placebo controlado.
Número de pacientes
N = 994
Período de inclusão
Junho de 2017 a Setembro de 2019.
Materiais e Métodos
Grupos de comparação (Randomização 1:1):
- Braço Experimental: Pembrolizumabe 200 mg IV a cada 3 semanas por 17 ciclos (1 ano)
- Braço Controle: Placebo a cada 3 semanas por 17 ciclos (1 ano)
Seguimento mediano: 57,2 meses (3a análise interina)
Desfechos
Desfecho primário: Sobrevida Livre de Doença (SLD)
Desfechos secundários: Sobrevida Global (SG) e Segurança
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
- Pacientes ≥ 18 anos
- Diagnóstico anatomopatológico de carcinoma renal células claras
- Grupos de risco:
- Intermediário-alto: T2 de alto grau ou com componente sarcomatóide ou T3
- Alto: T4 ou N+
- M1 sem evidência de doença: metástase* que surgiu até 1 ano após a nefrectomia, ressecada
- Até 12 semanas após cirurgia (nefrectomia parcial ou radical ou metastasectomia), com margens negativas
*Excluídos: metástase óssea ou em sistema nervoso central
Resultados
Características relevantes da população incluída: 89% = T3, 6% = N1, 11% = presença de componente sarcomatóide
Grupos de risco: 86% = risco intermediário-alto, 8% = alto risco, 6% = M1 SED
Taxa de sobrevida global | Pembrolizumabe | Placebo | Diferença Absoluta |
---|---|---|---|
24 meses | 96,3% | 93,9% | 2,4% |
36 meses | 93,9% | 89,5% | 4,4% |
48 meses | 91,2% | 86,0% | 5,2% |
HR 0,62 (IC 0,44-0,87), p = 0,005 (redução de risco relativa = 38%)
Taxa de sobrevida livre de progressão | Pembrolizumabe | Placebo | Diferença Absoluta |
---|---|---|---|
24 meses | 78,2% | 67,2% | 11% |
36 meses | 72,4% | 62,9% | 9,5% |
48 meses | 64,9% | 56,6% | 8,3% |
HR 0,72 (IC 0,59-0,87), (redução de risco relativa = 28%)
Análise de subgrupo para Sobrevida Global: Ganho com significância estatística apenas para o subgrupo de risco intermediário-alto; demais grupos com tendência a benefício, porém intervalo de confiança abrangente devido a subrepresentação (6% e 8% da população estudada).
Segurança:
- Descontinuação: 21,1% vs 2,2%
- Evento adverso: 79,1% vs 53% (Graus 3 ou 4: 18,6% vs 1,2%)
- Evento adverso imune-mediado ou infusionais: 36,5% vs 7,3%
Terapia Subsequente: Cerca de 80% dos pacientes em ambos os grupos receberam algum tipo de tratamento subsequente na progressão, incluindo tratamento sistêmico, radioterapia e cirurgia (com taxas de cada tipo de tratamento relativamente balanceadas entre os grupos). Dos pacientes que receberam tratamento sistêmico, 41% dos pacientes no braço PEMBRO ainda receberam anti-PD1/ anti-PD-L1 subsequentemente, ao passo que cerca de 70% dos pacientes no braço PLACEBO receberam essa terapia em primeira linha na progressão.
Comentário Editorial
Diversos estudos previamente publicados ao longo dos últimos anos falharam em demonstrar benefício do tratamento adjuvante no câncer renal, desde o uso histórico do interferon, até terapias posteriormente incorporadas, como os TKIs-VEGFR e os inibidores do mTOR. O sunitinibe foi a única terapia aprovada pelas agências regulatórias nesse cenário, após dados do estudo S-TRAC demonstrarem ganho em sobrevida livre de progressão. A ausência do benefício de sobrevida global, no entanto, associada às toxicidades dessa classe medicamentosa, levaram a não incorporação do seu uso na prática clínica da uro-oncologia.
Na era da imunoterapia, outros estudos desenvolvidos também não conseguiram demonstrar que a adição do tratamento sistêmico perioperatório traz benefício no carcinoma renal: atezolizumabe, no estudo IMmotion010; nivolumabe + ipilimumabe, no estudo Checkmate 914; e nivolumabe, no estudo PROSPER ECOG-ACRIN EA8143.
O KEYNOTE-546 foi o primeiro estudo de fase 3 prospectivo randomizado que foi capaz de demonstrar benefício em sobrevida livre de progressão e sobrevida global no carcinoma renal de células claras. Foi incluída uma ampla gama de pacientes (desde T2 com alto grau nuclear ou com componente sarcomatoide até metastáticos sem evidência de doença), porém, quase 90% da população avaliada correspondeu a pacientes com doença de risco intermediário-alto. Apesar de a análise de subgrupo sugerir benefício nos demais subgrupos (alto risco ou MI SED), uma vez que sub-representados, é questionável o benefício do pembrolizumabe nessas populações.
Além da análise de subgrupo, alguns pontos devem ser avaliados com cautela no estudo. Cerca de 70% dos pacientes que receberam terapia sistêmica no braço controle receberam imunoterapia em 1ª linha na recorrência, o que pode ter contribuído para o ganho em sobrevida global, uma vez que quase um terço dos pacientes não receberam o tratamento padrão atual. Ademais, 80% dos pacientes tiveram algum grau de evento adverso, com cerca de 20% grau 3 ou mais, demonstrando que este não é um tratamento isento de toxicidades.
Por fim, o estudo traz ganho em sobrevida global, inferindo uma maior chance de cura nos pacientes que recebem o pembrolizumabe adjuvante. Porém, uma análise crítica e mais aprofundada do estudo ainda traz alguns questionamentos quanto a quais pacientes podem, de fato, se beneficiar do tratamento, e se, na verdade, estamos curando mais pacientes ou apenas retardando a progressão ao tratar (e, quem sabe, sub-tratar) doença metastática precoce.
Referência
Choueiri TK, Tomczak P, Park SH, et al. Overall Survival with Adjuvant Pembrolizumab in Renal-Cell Carcinoma. N Engl J Med. 2024;390(15):1359-1371. doi:10.1056/NEJMoa2312695
Outros Resumos
-
Postado: dez/2024
Nectina-4 nas Malignidades Geniturinárias: Uma Revisão Sistemática