
Disfunção Vesical Causada por Tuberculose: Revisão Histórica
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Introdução
Em 2024, foi publicado o artigo “Bladder dysfunction caused by tuberculosis: A historical review” na revista Continence Reports. Este trabalho revisa a história da tuberculose urogenital e sua consequência na disfunção vesical, com foco nos métodos diagnósticos e opções terapêuticas utilizadas ao longo do tempo. No passado, a tuberculose da bexiga, não tratada, causava graves disfunções vesicais, frequentemente levando à necessidade de cistectomia. A introdução de antibióticos específicos transformou o prognóstico dessa condição.
Objetivo
Revisar a história da tuberculose urogenital, os métodos diagnósticos envolvidos e as consequências da disfunção vesical, assim como as estratégias terapêuticas adotadas ao longo do tempo.
Desenho do estudo
Revisão histórica baseada em dados de literatura.
Resultados
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Tuberculose urogenital (GUTB): Afeta principalmente os rins, próstata e testículos, sendo uma manifestação tardia da tuberculose pulmonar. Corresponde a 30-40% dos casos extrapulmonares, com maior incidência em homens. GUTB afeta 10% dos casos de tuberculose pulmonar em países desenvolvidos e até 20% em países em desenvolvimento.
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Diagnóstico:
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Cistoscopia: Na fase inicial da cistite tuberculosa, observam-se edema e inflamação na região do óstio ureteral, que podem evoluir para fibrose e formação de estenose. Em casos graves, a fibrose afeta toda a parede vesical, resultando em uma bexiga fibrosa e pequena, frequentemente associada à perda de função vesical.
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Exame de Urina: A confirmação do diagnóstico é feita pela presença de bacilos de Koch (BK) na urina. A cultura de BK e a inoculação em cobaias eram métodos diagnósticos amplamente utilizados antes da introdução dos modernos testes moleculares. Estes exames permitiam a identificação da tuberculose e sua diferenciação de outras infecções do trato urinário.
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Ureteropielografia retrógrada: Utilizada para avaliar a extensão da doença, esta técnica permitia identificar estenoses e lesões no trato urinário, especialmente nas regiões do ureter e pelve renal. Esse exame era crucial para determinar o impacto da doença no sistema urinário superior e auxiliar na decisão de intervenção cirúrgica.
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Tratamento:
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Nefrectomia: A remoção do rim acometido era uma abordagem comum antes do advento dos antibióticos. A nefrectomia era indicada quando a tuberculose renal causava dano irreversível ao órgão e a cistite tuberculosa estava associada à doença renal. Estudos da época mostraram que a nefrectomia levava à cura da cistite tuberculosa em aproximadamente 70% dos casos. No entanto, essa abordagem trazia riscos, como mortalidade perioperatória (estimada entre 3-6%) e possível disseminação sistêmica da doença em 2-3% dos casos devido à manipulação cirúrgica.
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Antibióticos: Com o advento da estreptomicina em 1944, o tratamento da tuberculose urogenital passou a se basear em combinações de medicamentos antituberculosos, como isoniazida, rifampicina e etambutol. Estes medicamentos erradicaram a infecção na maioria dos casos, embora as sequelas da cistite tuberculosa, como a fibrose vesical, continuem sendo um desafio clínico.
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Comentário Editorial
O tratamento da tuberculose urogenital evoluiu significativamente desde os tempos da abordagem cirúrgica predominante até o uso eficaz de regimes antibióticos combinados. Atualmente, com o uso de medicamentos como rifampicina, isoniazida e etambutol, a tuberculose urogenital pode ser tratada de forma eficaz na maioria dos casos. No entanto, a crescente resistência a antibióticos representa um desafio emergente, especialmente em países com alta prevalência da doença. Em relação à cistite tuberculosa, as sequelas como a fibrose e a diminuição da capacidade vesical continuam sendo complicações difíceis de tratar. Técnicas cirúrgicas, como a ampliação vesical ou a reconstrução com uso de tecido intestinal, são opções para pacientes com disfunção vesical severa.
O avanço nas técnicas diagnósticas, como a PCR para identificação do Mycobacterium tuberculosis na urina, melhorou a acurácia diagnóstica e reduziu o tempo até o início do tratamento. No entanto, a tuberculose urogenital ainda requer alta suspeição clínica, especialmente em áreas endêmicas, para prevenir complicações e sequelas a longo prazo. A nefrectomia, embora atualmente menos comum, ainda pode ser necessária em casos de lesão renal irreversível, sendo uma intervenção salvadora em algumas situações
Referência
Cuénant E, Van Kerrebroeck P. Bladder dysfunction caused by tuberculosis: A historical review. Continence Reports. 2024;11:100052. DOI: https://doi.org/10.1016/j.contre.2024.100052
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Postado: dez/2024
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