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Disfunção Vesical Pós-AVC: Atualização sobre Diagnóstico e Manejo

Autores do Artigo

Agapiou E, Pyrgelis E, Mavridis IN, Meliou M, Wimalachandra WSB

Revista

Bladder

Data da publicação

Agosto 2024

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Março 2025

  

Introdução

O artigo “Bladder Dysfunction Following Stroke: An Updated Review on Diagnosis and Management”, publicado na Bladder em 2024, revisa o impacto, diagnóstico e manejo da disfunção vesical em pacientes pós-acidente vascular cerebral (AVC). A disfunção vesical é uma complicação comum após AVC, afetando significativamente a qualidade de vida (QoL) e associada a altos custos para a saúde pública.

Objetivo

Explorar a prevalência, fisiopatologia, diagnóstico e opções terapêuticas da disfunção vesical em pacientes pós-AVC.

Desenho do estudo

Revisão narrativa baseada em 62 artigos selecionados de 272 encontrados no PubMed até março de 2021. O estudo inclui apenas artigos focados em disfunção vesical após AVC, excluindo lesões não relacionadas ao cérebro.

Resultados

1. Fisiopatologia e Achados Clínicos:
o Sintomas urinários comuns: Incontinência urinária (UI), urgência, frequência aumentada, dificuldade de esvaziamento e noctúria. A UI afeta até 79% dos pacientes na fase aguda e persiste em 16% dois anos após o AVC.
 
Tabela 1- Resumo das associações entre a posição cerebral da lesão, alterações na fisiologia urinária e achados clínicos.
Posição da Lesão Cerebral Fisiopatologia Achados Clínicos
Lobo frontal Hiperatividade detrusora Urgência, incontinência
Lobo parietal Alteração na percepção sensorial Diminuição da percepção de enchimento vesical
Ínsula Hipocontratilidade detrusora Retenção urinária
Gânglios basais Controle ineficaz do reflexo de micção Micção frequente e não inibida
Cerebelo Descoordenação dos reflexos vesico-esfincterianos Fluxo urinário intermitente
Ponte Detrusor-esfíncter dissinérgico Fluxo intermitente e retenção
Medula oblongata Disfunção na regulação autonômica Retenção urinária grave

2. Diagnóstico:
o Avaliação inicial: História clínica detalhada, diário miccional e exame físico.
o Estudos urodinâmicos: Avaliam padrões como hiperatividade detrusora, hiporreflexia detrusora e dissinergia esfincteriana, auxiliando na individualização do tratamento.
o Risco de infecções: Volumes residuais >50 mL aumentam o risco de infecções urinárias e formação de cálculos.

 

3. Manejo:
- Abordagem inicial: Técnicas comportamentais como micção programada, treinamento vesical e exercícios do assoalho pélvico, além de intervenções no estilo de vida.
- Terapia farmacológica:

  • Antimuscarínicos: Como oxibutinina e tolterodina, úteis para reduzir urgência e aumentar a capacidade vesical, mas limitados por efeitos colaterais (boca seca, constipação).
  • Agonistas beta-3: Mirabegrona e vibegrona, com eficácia semelhante aos antimuscarínicos, mas com melhor tolerabilidade.
  • Toxina botulínica intravesical: Indicada para pacientes refratários, reduz episódios de urgência e incontinência.
  • Inibidores de fosfodiesterase tipo 5 (PDE5i): Como tadalafila, demonstraram benefício em casos de hiperatividade detrusora secundária a AVC.

- Terapias avançadas: Neuromodulação sacral e estimulação do nervo tibial posterior mostraram eficácia em casos refratários.

 

- Reabilitação: Programas individualizados focados na cooperação do paciente melhoram significativamente os sintomas urinários e reduzem complicações.

4. Impacto e Prognóstico:

  • Qualidade de vida: A disfunção vesical afeta negativamente a reabilitação e está associada a maiores taxas de institucionalização e mortalidade.
  • Recuperação: A UI melhora espontaneamente em muitos pacientes, com 50% recuperando a continência após um ano.

 

Conclusão do Trabalho

A disfunção vesical após AVC é prevalente e exige diagnóstico precoce e manejo individualizado para minimizar complicações e melhorar a QoL. Avanços terapêuticos, como neuromodulação, agonistas beta-3 e terapias comportamentais, representam opções promissoras para melhorar os desfechos clínicos.

Comentário Editorial

Este artigo enfatiza a importância de uma abordagem multidisciplinar para o manejo da disfunção vesical pós-AVC, integrando diagnóstico precoce, terapias comportamentais e farmacológicas. A introdução de opções como agonistas beta-3 e inibidores de PDE5 amplia as possibilidades terapêuticas, enquanto estratégias avançadas como a neuromodulação oferecem soluções para casos mais graves. A personalização do cuidado permanece essencial para otimizar os resultados e reduzir o impacto da disfunção na qualidade de vida.

Referência

Agapiou E, Pyrgelis E, Mavridis IN, Meliou M, Wimalachandra WSB. Bladder dysfunction following stroke: An updated review on diagnosis and management. Bladder. 2024;11(1):e21200005. DOI: https://doi.org/10.14440/bladder.2024.0012

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