
Durvalumabe Perioperatório com Quimioterapia Neoadjuvante no Câncer de Bexiga Músculo-Invasivo (NIAGARA)
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Introdução
Em Setembro de 2024, foi publicado no The New England Journal of Medicine o estudo - em tradução livre - "Durvalumabe perioperatório com quimioterapia neoadjuvante em câncer de bexiga operável”, estudo NIAGARA. Esse estudo de fase 3 randomizado demonstrou ganho em sobrevida livre de progressão e sobrevida global com a adição de duravlumabe, uma imunoterapia anti-PD-L1, à quimioterapia neoadjuvante dos pacientes submetidos a cistectomia radical.
Consulte abaixo a descrição mais detalhada do trabalho:
Objetivo
Avaliar a eficácia da adição do durvalumabe no tratamento perioperatório dos pacientes com câncer de bexiga músculo-invasivo candidatos à cistectomia e elegíveis a cisplatina neoadjuvante.
Desenho do estudo
Estudo de fase III, randomizado, global, aberto.
Número de pacientes
1063
Período de inclusão
Novembro de 2018 a Julho de 2021.
Materiais e Métodos
Grupos de comparação (Randomização 1:1):
- Braço Experimental: Durvalumabe + Cisplatina + Gencitabina x 4 ciclos → Cistectomia radical → Durvalumabe x 8 ciclos
- Braço Controle: Cisplatina + Gencitabina x 4 ciclos → Cistectomia radical
Seguimento mediano: 42,3 meses
Desfechos
Desfecho Primário: Sobrevida Livre de Evento (SLE) e Taxa de Resposta Patológica Completa (pRC)
Desfechos Secundários: Sobrevida Global (SG) e Toxicidades
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
- Pacientes ≥ 18 anos
- Diagnóstico histológico ou citológico de câncer de bexiga músculo-invasivo
- Histologias urotelial, urotelial com diferenciação divergente (escamoso ou glandular) ou outros subtipos histológicos
- Estadiamento clínico T2 a T4a, N0 ou N1, M0 (AJCC 8ª edição)
- Elegíveis a cisplatina com ClCr ≥ 40 ml/ min/ 1,73 m2
- Candidatos a cistectomia
- Excluídos: quimioterapia ou imunoterapia prévias para câncer de bexiga músculo-invasivo; carcinoma não-urotelial puro ou qualquer componente de pequenas células
Resultados
Características relevantes da população incluída: 1% negros, 84% histologia urotelial pura, 40% cT2N0, 5% cN1, 73% alta expressão de PD-L1
Aderência ao tratamento:
- Completaram neoadjuvância: 78,7% (durvalumabe) vs 74% (controle)
- Realizaram cistectomia: 88% (durvalumabe) vs 83,2% (controle)
- Completaram adjuvância: 61,4% (n = 288/ 469)
Desfechos:
Desfecho | Experimental | Controle | Resultado |
---|---|---|---|
Resposta patológica completa | 37,3% | 27,5% |
RR 1,34 (IC 95% 1,13-1,60), p=0,0005 |
Sobrevida livre de eventos em 2 anos | 67,8% | 59,8% |
HR 0,68 (IC 95% 0,56-0,82), p<0,001 |
Sobrevida global em 2 anos | 82,8% | 75,2% |
HR 0,75 (IC 95% 0,59-0,93), p=0,01 |
Segurança:
- Evento adverso graus 3 ou 4: 69,4% (durva) vs 67,5% (controle)
- Evento adversomais comuns: náusea, anemia e constipação
- Evento adverso imune-relacionado: 20,9% (hipotireoidismo, hipertireoidismo, dermatite/ rash, eventos renais, diarreia/ colite, pneumonite)
- Descontinuação da neoadjuvância: 14,9% vs 15,2%
- Descontinuação do Durvalumabe: 16,2%
- Atraso na cirurgia por evento adverso: 1,7% vs 1,1%
Comentário Editorial
NIAGARA foi o primeiro estudo de fase 3 randomizado que demonstrou ganho de sobrevida livre de doença e sobrevida global com adição da imunoterapia no tratamento perioperatório do câncer de bexiga. A taxa de eventos adversos, o percentual de pacientes submetidos a cistectomia e a taxa de complicações sérias pós-operatórias sugerem que o uso pré-operatório do durvalumabe não foi mais tóxico, não atrasou a cirurgia e não a tornou mais difícil. O estudo atual, no entanto, não é capaz de demonstrar a superioridade dessa estratégia em relação ao nivolumabe (Bajorin et al. 2021) ou pembrolizumabe (Apolo et al. 2024) adjuvantes (não contemplados no braço controle), cujo benefício foi previamente demonstrado na doença de alto risco músculo-invasiva pós-cistectomia. Ademais, a escolha do esquema de quimioterapia com cisplatina e gencitabina (CG) também é questionável no cenário atual, uma vez que dados recentes sugerem que o esquema ddMAVC parece ser superior em sobrevida global ao CG na neodjuvância (Pfister et al. 2021).
A despeito da análise de subgrupo demonstrar o benefício em todos os subgrupos analisados, deve ser encorajada a descoberta de biomarcadores para descobrir quais pacientes mais se beneficiam da intensificação do tratamento, reduzindo, assim, as toxicidades clínicas e financeiras. Um questionamento cabível, por exemplo, é quanto a necessidade do durvalumabe adjuvante nos pacientes com resposta patológica completa. Diante desses resultados, a combinação de cisplatina, gencitabina e durvalumabe deve fazer parte do arsenal terapêutico do carcinoma de bexiga músculo-invasivo em pacientes candidatos cistectomia e elegíveis a cisplatina neoadjuvante.
Referência
Powles T, Catto JWF, Galsky MD, et al. Perioperative Durvalumab with Neoadjuvant Chemotherapy in Operable Bladder Cancer. N Engl J Med. Published online September 15, 2024. doi:10.1056/NEJMoa2408154
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