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Oxibutina Intravesical para Bexiga Neurogênica em Crianças: Resultados Urodinâmicos, Renais e Protocolo de Administração

Autores do Artigo

De Smedt W, Jansen K, Bogaert G.

Revista

Journal of Pediatric Urology

Data da publicação

Fevereiro 2025

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Fevereiro 2025

  

Introdução

O artigo "Long-term Intravesical Oxybutynin for Neurogenic Bladder in Children Has Good Urodynamic and Renal Outcome", publicado no Journal of Pediatric Urology, avalia os resultados a longo prazo da oxibutinina intravesical no manejo da bexiga neurogênica em crianças com anomalias espinhais congênitas. A administração intravesical da oxibutinina é uma alternativa eficaz para pacientes que não toleram a forma oral devido a efeitos adversos anticolinérgicos sistêmicos.

Objetivo

Avaliar os desfechos urodinâmicos e renais a longo prazo do uso da oxibutinina intravesical em crianças com bexiga neurogênica, além de descrever o protocolo de preparação e administração da medicação.

Desenho do estudo

Estudo retrospectivo de coorte observacional realizado em centro único

Número de pacientes

122 crianças

Materiais e Métodos

Estudo retrospectivo de coorte observacional realizado em centro único, incluindo 122 crianças que iniciaram oxibutinina intravesical antes dos 18 anos. Foram analisados parâmetros urodinâmicos, cistografia por raio-X, cintilografia renal com DMSA e taxa de filtração glomerular (TFG). Os resultados foram comparados com dados basais antes do início do tratamento, tanto sem medicação anticolinérgica quanto sob oxibutinina oral.

Protocolo de Preparação e Administração
A oxibutinina intravesical foi preparada na farmácia hospitalar dissolvendo-se oxibutinina em solução salina 0,9% e esterilizando a solução em ampolas de 5 mg/5 ml, com pH de 5,85. A administração ocorreu duas vezes ao dia por meio do cateter uretral utilizado para o cateterismo intermitente limpo (CIC), com dose ajustada pelo peso corporal (0,1 a 0,3 mg/kg/dose). Enfermeiros especializados instruíram pais e cuidadores sobre a técnica correta, incluindo:

  • Preparação da solução na seringa;
  • Administração direta na bexiga pelo cateter urinário;
  • Armazenamento adequado da medicação.
    Além das orientações práticas, foi fornecido um guia passo a passo ilustrado com fotos para garantir a correta aplicação da medicação em casa.

Resultados

  1. Melhora dos Parâmetros Urodinâmicos
    • A duração média do tratamento foi de 7,8 anos (DP ±5,9).
    • A proporção de pacientes com capacidade vesical dentro da faixa normal para a idade aumentou de 36% para 81% (p < 0,001).
    • A pressão de enchimento final reduziu significativamente de 49,6 cmH₂O para 26,1 cmH₂O (p = 0,017).
    • A presença de hiperatividade detrusora (>30 cmH₂O) caiu de 50% para 18% (p = 0,007).
  2. Impacto na Saúde Renal
    • O refluxo vesicoureteral (VUR) reduziu de 45% para 18% após o tratamento (p < 0,001).
    • 97% dos pacientes (86/89) mantiveram TFG acima de 60 ml/1,73 m²/min, indicando preservação da função renal.
    • O tratamento prolongado foi associado a melhor capacidade vesical ajustada para a idade e menor incidência de hiperatividade detrusora e VUR.
  3. Complicações e Cirurgias Relacionadas
    • Episódios de pielonefrite ocorreram em 21% dos pacientes ao longo do tratamento.
    • 29% apresentaram distribuição assimétrica da função renal com cicatrizes renais.
    • 16% necessitaram de cistoplastia de aumento.

Conclusão do Trabalho

O uso prolongado da oxibutinina intravesical mostrou ser uma opção terapêutica eficaz e segura para o manejo da bexiga neurogênica em crianças, promovendo melhora dos parâmetros urodinâmicos e reduzindo a deterioração do trato urinário superior. A adesão ao protocolo de administração e a capacitação dos cuidadores foram fundamentais para o sucesso do tratamento.

Comentário Editorial

Este estudo reforça a eficácia da oxibutinina intravesical como alternativa ao tratamento oral para crianças com bexiga neurogênica, com benefícios na capacidade vesical e na preservação da função renal. A implementação de um protocolo padronizado de administração, com suporte educacional aos cuidadores, foi essencial para garantir a adesão ao tratamento e minimizar complicações. Estudos comparativos futuros devem avaliar a oxibutinina intravesical em relação a outras abordagens terapêuticas, como a toxina botulínica.

Referência

De Smedt W, Jansen K, Bogaert G. Long-term Intravesical Oxybutynin for Neurogenic Bladder in Children Has Good Urodynamic and Renal Outcome. Journal of Pediatric Urology. 2025. DOI: 10.1016/j.jpurol.2025.01.015.

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