
Risco de demência associado ao uso de anticolinérgicos em comparação aos agonistas beta-3 em idosos com bexiga hiperativa: estudo LIFE
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Introdução
Em janeiro de 2025, foi publicado na revista International Journal of Geriatric Psychiatry o estudo “Risco de demência associado ao uso de anticolinérgicos em comparação aos agonistas beta-3 em idosos com bexiga hiperativa: estudo LIFE”. Este trabalho avaliou, em uma coorte retrospectiva de mais de 1,4 milhão de indivíduos, a associação entre o uso de medicamentos anticolinérgicos e agonistas beta-3 no risco de desenvolvimento de demência em idosos com bexiga hiperativa (OAB) no Japão. Os resultados mostraram que o uso de anticolinérgicos esteve associado a um risco significativamente maior de demência em comparação ao uso de agonistas beta-3, reforçando a importância de uma abordagem terapêutica mais cautelosa e personalizada nessa população vulnerável.
Objetivo
Avaliar a associação entre o risco de desenvolvimento de demência e o uso de medicamentos anticolinérgicos em comparação ao uso de agonistas beta-3 em idosos com bexiga hiperativa, utilizando dados de uma coorte populacional no Japão.
Desenho do estudo
Estudo de coorte retrospectivo, baseado em dados do Longevity Improvement & Fair Evidence Study (LIFE), um banco de dados populacional com registros administrativos de saúde no Japão, abrangendo o período de 2014 a 2022. Foram comparadas as taxas de incidência de demência entre usuários de medicamentos anticolinérgicos e usuários de agonistas beta-3 para tratamento de bexiga hiperativa, por meio de análise de regressão de riscos proporcionais de Cox ajustada para variáveis de confusão.
Número de pacientes
Foram incluídos 1.493.202 participantes do banco de dados LIFE. Dentre esses, 13.448 usuários de medicamentos anticolinérgicos e 24.669 usuários de agonistas beta-3 (mirabegron ou vibegron), todos com diagnóstico de bexiga hiperativa e idade igual ou superior a 65 anos.
Período de inclusão
Período de recrutamento: de 2014 a 2022.
Materiais e Métodos
Foram analisados dados do banco de dados populacional Longevity Improvement & Fair Evidence Study (LIFE), que reúne registros administrativos de saúde do Japão. Foram incluídos pacientes com idade igual ou superior a 65 anos, diagnosticados com bexiga hiperativa e usuários de medicamentos anticolinérgicos ou agonistas beta-3 (mirabegron ou vibegron). A partir da data de início da prescrição (data índice), os pacientes foram acompanhados quanto à incidência de diagnóstico de demência.
O risco de demência foi estimado utilizando modelo de regressão de riscos proporcionais de Cox ajustado para idade, sexo, comorbidades e uso concomitante de outras medicações. Análise de sensibilidade adicional foi realizada com modelo de ponderação por probabilidade inversa (IPW) para controle de potenciais vieses de confusão.
Desfechos
Desfecho primário:
-
Incidência de diagnóstico de demência após o início do tratamento com anticolinérgico ou agonista beta-3.
Desfechos secundários:
-
Comparação do risco relativo de demência entre os grupos de tratamento.
-
Validação dos resultados com análise de sensibilidade utilizando modelo de ponderação por probabilidade inversa (IPW).
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Critérios de inclusão:
-
Pacientes com idade igual ou superior a 65 anos.
-
Diagnóstico de bexiga hiperativa.
-
Uso documentado de medicamentos anticolinérgicos ou agonistas beta-3 (mirabegron ou vibegron), com prescrição registrada no banco de dados LIFE entre 2014 e 2022.
Critérios de exclusão:
-
Pacientes com diagnóstico prévio de demência antes da data índice (início do tratamento com anticolinérgico ou agonista beta-3).
-
Pacientes com dados incompletos para as variáveis de ajuste da análise.
Resultados
Desfecho | Anticolinérgicos | Agonistas beta-3 | Comparação |
---|---|---|---|
Número de pacientes | 13.448 | 24.669 | — |
Idade média (anos) | 78,8 (±7,0) | 78,9 (±6,7) | — |
Percentual de homens (%) | 39,7% | 47,2% | — |
Novos casos de demência (n) | 1826 | 2130 | — |
Person-years de seguimento | 34.929 | 51.605 | — |
Risco de demência (HR ajustado) | — | — | HR ajustado = 1,22 (IC95% 1,15-1,30) |
Análise de sensibilidade (IPW) | — | — | HR ajustado = 1,19 (IC95% 1,11-1,28) |
Durante o período de seguimento, foram diagnosticados 1826 novos casos de demência no grupo de usuários de anticolinérgicos e 2130 casos no grupo de usuários de agonistas beta-3. O risco ajustado de demência foi significativamente maior no grupo que utilizou anticolinérgicos em comparação com o grupo de agonistas beta-3, com hazard ratio ajustado de 1,22 (IC95% 1,15-1,30). A análise de sensibilidade utilizando o modelo de ponderação por probabilidade inversa (IPW) confirmou os resultados, com hazard ratio ajustado de 1,19 (IC95% 1,11-1,28).
Conclusão do Trabalho
Comparado aos agonistas beta-3, o uso de medicamentos anticolinérgicos está associado a um risco aumentado de desenvolvimento de demência em idosos com bexiga hiperativa no Japão. Estes achados sugerem que os agonistas beta-3 podem representar uma alternativa terapêutica mais segura em relação ao risco cognitivo, sendo uma opção preferencial para pacientes idosos com OAB. Os autores recomendam que mais estudos sejam realizados para confirmar esses resultados e orientar o uso racional dessas classes de medicamentos na prática clínica.
Comentário Editorial
Este estudo de coorte retrospectivo, de grande escala populacional, reforça a evidência crescente de que o uso prolongado de medicamentos anticolinérgicos no tratamento da bexiga hiperativa está associado a um aumento significativo do risco de demência em idosos. A comparação direta com os agonistas beta-3, que demonstraram um perfil de segurança cognitiva mais favorável, é um dos pontos fortes deste trabalho. Estes achados são consistentes com recomendações recentes que sugerem maior cautela na prescrição de anticolinérgicos em populações vulneráveis, como os idosos.
Entre as limitações do estudo, destacam-se o seu desenho retrospectivo, a dependência de registros administrativos para definição de diagnóstico e possíveis vieses residuais, mesmo após ajuste estatístico. No entanto, a robustez da amostra e a consistência dos resultados nas análises de sensibilidade conferem credibilidade aos achados.
Este estudo reforça a necessidade de se individualizar o manejo da bexiga hiperativa em idosos, priorizando terapias com menor impacto potencial sobre a cognição, como os agonistas beta-3, e limitando o uso prolongado de anticolinérgicos sempre que possível.
Referência
Okita Y, Shimomura Y, Komukai S, et al. Risks of Dementia Associated With Anticholinergic Medication Compared to Beta-3 Agonist Among Older Patients With Overactive Bladder in Japan: The LIFE Study. Int J Geriatr Psychiatry. 2025;40(1):e70036. doi:10.1002/gps.70036.
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