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Seguimento em Longo Prazo da Utilização de Toxina Botulínica Intradetrusora: Comparação entre Pacientes com Esclerose Múltipla e Bexiga Hiperativa Idiopática

Autores do Artigo

Chui W, Kealey J, Yao HH, et al.

Revista

BJUI Compass

Data da publicação

Dezembro 2024

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Junho 2025

  

Introdução

Este estudo, publicado no BJUI Compass, avaliou os desfechos de longo prazo da utilização repetida da toxina botulínica intradetrusora em pacientes com esclerose múltipla com bexiga neurogênica e comparou-os com pacientes com bexiga hiperativa idiopática.

Objetivo

Comparar a eficácia, duração do efeito, complicações e medidas de qualidade de vida entre pacientes com esclerose múltipla e  bexiga hiperativa idiopática submetidos a até 10 ciclos de tratamento com toxina botulínica intradetrusora.

Desenho do estudo

Coorte retrospectiva internacional e multicêntrica.

Número de pacientes

792 pacientes.

Materiais e Métodos

Coorte retrospectiva internacional e multicêntrica, envolvendo 792 pacientes tratados entre 2005 e 2020: 104 com esclerose múltipla e 688 com bexiga hiperativa idiopática. Dados analisados incluíram dose utilizada, eficácia autodeclarada, duração do efeito, complicações (retenção urinária, infecção urinária) e indicadores de qualidade de vida (ICIQ-OAB e ICIQ-UI).

Resultados

1. Eficácia e Duração do Efeito
- A eficácia autodeclarada variou entre 85,7% e 100% no grupo esclerose múltipla e entre 87,2% e 100% na bexiga hiperativa idiopática
- Pacientes com  esclerose múltipla relataram maior eficácia nas primeiras três aplicações comparadas ao grupo bexiga hiperativa idiopática (p < 0.05).
- A duração do efeito diminuiu significativamente com os ciclos: de mediana de 8 meses no 1º ciclo para 5 meses no 10º no grupo esclerose múltipla (p = 0.0156), e de 7 para 6 meses no grupo bexiga hiperativa idiopática (p = 0.0107).

2. Doses e Retenção Urinária
- Pacientes com esclerose múltipla receberam doses significativamente mais altas de toxina botulínica em todos os ciclos (p < 0.001), com maior necessidade de doses ≥ 300 U a partir do 3º ciclo.
- A retenção urinária de novo foi mais frequente no grupo esclerose múltipla: 44,1% no 1º ciclo, reduzindo a zero após o 3º ciclo. Na bexiga hiperativa idiopática, a retenção variou de forma mais constante entre os ciclos, entre 15% e 32%.

3. Infecções do Trato Urinário (ITU)
- A incidência de ITU foi significativamente maior no grupo esclerose múltipla em vários ciclos: até 23,8% em determinados momentos, comparado a 0-4,5% no grupo idiopático (p < 0.05 em vários ciclos).

4. Qualidade de Vida
- Ambos os grupos apresentaram melhora sustentada nos escores do ICIQ-OAB e ICIQ-UI ao longo dos ciclos.
- A melhora nas taxas de incontinência foi significativa e mantida, com reduções de episódios diurnos e noturnos em ambos os grupos.

Conclusão do Trabalho

O tratamento intradetrusor com toxina botulínica demonstrou eficácia sustentada em pacientes com esclerose múltipla e bexiga hiperativa idiopática ao longo de até 10 ciclos. Pacientes com esclerose múltipla relataram maior eficácia nas aplicações iniciais, embora com redução progressiva da duração do efeito, possivelmente refletindo a evolução natural da doença. As complicações, especialmente ITU e retenção urinária, foram mais frequentes em pacientes com esclerose múltipla, exigindo maior atenção clínica.

Comentário Editorial

Este estudo é uma das maiores séries longitudinais comparando toxina botulínica em bexiga hiperativa neurogênica versus idiopática, e reforça a segurança e eficácia do tratamento repetido. Os achados destacam a necessidade de aconselhamento adequado quanto à possibilidade de redução da duração do efeito e maior risco de ITU e retenção urinária em pacientes com esclerose múltipla. Futuras investigações devem explorar estratégias para prolongar o efeito terapêutico e minimizar complicações, como ajustes de dose e profilaxia de ITU.

Referência

Chui W, Kealey J, Yao HH, et al. Long-term follow-up of intradetrusor botulinum toxin utilisation: A comparison of patients with multiple sclerosis and idiopathic overactive bladder. BJUI Compass. 2025;6:e479. DOI: 10.1002/bco2.479.

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