
Biópsia de próstata transperineal traz menos complicações infecciosas? Resultados do ensaio clínico randomizado PREVENT
Autores do Artigo
Revista
Data da publicação
Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo
Introdução
Em fevereiro de 2024 foi publicado o estudo - em tradução livre - "Biópsia de Próstata Transperineal versus Transrretal Sistemática Guiada por Ressonância Magnética para Prevenir Complicações Infecciosas: Estudo Randomizado PREVENT" na revista European Urology. Este estudo é o segundo publicado em um curto intervalo de tempo após a modificação do guideline europeu que definiu a biópsia de próstata transperineal como via de acesso preferencial no diagnóstico inicial do câncer de próstata. Apesar do design robusto e execução exemplar, o estudo não demonstrou superioridade estaticamente significante dessa via em detrimento da via transretal.
Confira mais detalhes do estudo a seguir:
Objetivo
Comparar as taxas de infecção entre as biópsias de próstata transperineal e transretal.
Desenho do estudo
Ensaio clínico randomizado, multicêntrico, aberto. Foi assumida a ocorrência de uma infecção no braço transperineal e 5% de taxa de infecção no grupo transperineal. Diante disto, o cálculo amostral resultou em 236 pacientes em cada braço para um poder estatístico de 80% para rejeitar a hipótese nula de não diferença entre os dois métodos, considerando um erro alfa de 0,05. A amostra foi aumentada para 530 pacientes para permitir uma perda de seguimento de até 10%.
Número de pacientes
Foram incluídos 1189 pacientes, dos quais 658 foram submetidos à randomização. Na análise intention-to-treat foram incluídos 287 pacientes no grupo transperineal vs. 280 no grupo transretal.
Período de inclusão
Março de 2021 a Maio de 2023.
Materiais e Métodos
Grupos de comparação:
- Biópsia transperineal: sem administração de antibiótico.
- Biópsia transretal: cultura de swab retal e antibioticoterapia profilática dirigida.
Desfechos
Desfecho Primário: taxa de infecção pós-biópsia após 7 dias do procedimento nas biópsias por via transperineal vs. via transretal.
Desfechos Secundários: taxa de detecção de câncer, complicações não infecciosas, morbidades (dor e desconforto) durante e após 7 dias da biópsia.
Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes
Critérios de inclusão: ser esta a primeira biópsia de próstata, PSA alterado, toque retal alterado e ter lesão suspeita à ressonância (PIRADS 3-5).
Critérios de exclusão: prostatite aguda nos últimos 6 meses e infecção atual que necessite de antibioticoterapia.
Resultados
Desfecho | Transperineal - n (%) | Transretal - n (%) | IC 95% | p |
---|---|---|---|---|
Infecção em 7 dias | 0 (0) | 4 (1,4) | -3,6 a 0,2 | 0,059 |
Detecção de câncer | 151 (53) | 141 (50) | -6 a 10 | |
Complicações não infecciosas | ||||
Retenção urinária | 1 (0,3) | 3 (1,1) | -2,8 a 1 | |
Sangramento | 0 (0) | 1 (0,4) | -2 a 1 | |
Dor e desconforto | 3,6 (2,3) | 3,0 (2,1) | 0,2 a 0,9 |
Comentário Editorial
A biópsia de próstata por via transretal é a opção amplamente disponível em nível mundial. Apresenta boa tolerabilidade e risco de infecção aceitável. Porém, por ser um método diagnóstico de uma doença potencialmente indolente, torna-se praticamente inadmissível que este procedimento exponha o paciente a risco de infecções severas, necessidade de internação em unidade de terapia intensiva e óbito. Diante disto, a comunidade urológica européia, baseada em estudos retrospectivos, estabeleceu a via transperineal como primeira escolha haja vista o excelente desempenho desta em relação à complicação infecciosa pós-procedimento. No entanto, o tema carece de investigação prospectiva. O PREVENT Trial não demonstrou diferença estatisticamente significante entre as duas modalidades de biópsia em relação aos desfechos analisados, apesar de taxa de infecção numericamente menor a favor da biópsia transperineal. Resultado semelhante também foi encontrado no ensaio PROBE-PC, publicado poucos meses antes no Journal of Urology, no qual também não houve superioridade da biópsia transperineal sobre a biópsia transretal em relação à taxa de infecção, muito embora seja este um trabalho bastante questionável do ponto de vista metodológico. Aguardamos os resultados do ensaio TRANSLATE, idealizado no Reino Unido, que poderá trazer mais clareza quanto ao real benefício da via transperineal para o diagnóstico do câncer de próstata. O potencial aumento do custo econômico e logístico que a transição da via transretal para a via transperineal também deve ser levado em conta e não temos consolidados até o presente momento dados que demonstrem o real impacto dessa decisão.
Referência
C. Hu, M. Assel, M.E. Allaf et al., Transperineal Versus Transrectal Magnetic Resonance Imaging–targeted and Systematic Prostate Biopsy to Prevent Infectious Complications: The PREVENT Randomized Trial, Eur Urol . 2024 Jul;86(1):61-68
Outros Resumos
-
Postado: dez/2024
Nectina-4 nas Malignidades Geniturinárias: Uma Revisão Sistemática